Presidente francês defende que europeus tenham maior autonomia e propõe diálogo estratégico sobre papel das armas nucleares francesas na segurança do bloco. Do controle sobre o armamento, porém, ele não abre mão.
Por Redação, com DW – de Paris
O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesta sexta-feira que os europeus não podem ser meros espectadores de uma corrida armamentista mundial e devem reforçar sua autonomia e assim depender menos dos Estados Unidos para sua segurança.

Ele ofereceu, aos demais países da União Europeia (UE), o que chamou de diálogo estratégico sobre o papel da armas nucleares francesas para a segurança do bloco, mas descartou mais uma vez abrir mão do controle sobre esse armamento.
– A França mobilizará seus parceiros europeus para definir as bases de uma estratégia internacional comum que poderemos propor em todos os fóruns de que a UE participa – declarou Macron em seu discurso na Escola Militar da França.
O chefe de Estado destacou que o país reduziu seu arsenal nuclear para menos de 300 ogivas. Com a saída do Reino Unido, a França é o único país da UE a ter armas nucleares.
O mundo enfrenta “uma competição global entre Estados Unidos e China”, uma “erosão acelerada da ordem jurídica internacional” e a desintegração da arquitetura de controle de armamentos na Europa, disse Macron, num discurso muito aguardado e que é tradição para os presidentes franceses. Para ele, os europeus devem responder a esse conjunto de desafios com mais autonomia estratégica.
Segurança a longo prazo
– A França está convencida de que a segurança a longo prazo da Europa passa por uma aliança forte com os Estados Unidos. Mas nossa segurança passa também, inevitavelmente, por uma maior capacidade de ação autônoma dos europeus – disse.
O governo do presidente Donald Trump rompeu o tratado sobre armas nucleares de médio alcance INF, firmado por Rússia e Estados Unidos em 1987, o que colocou a Europa no meio de uma potencial corrida armamentista.
– Se uma negociação e um tratado mais amplos são possíveis, então os queremos”, destacou o presidente francês. “Os europeus devem ser parte interessada e signatária do próximo tratado, porque se trata do nosso território – reforçou.
Os Estados Unidos também ameaçaram não renovar o tratado New Start sobre armamento estratégico nuclear, fechado em 2010 e que vence em 2021.
Críticas de vários políticos
Macron descartou recentemente colocar as armas nucleares francesas sob controle da Otan e da UE, como sugeriu um parlamentar alemão da União Democrata Cristã (CDU), e reafirmou em seu discurso que o Brexit não muda nada na cooperação nuclear entre França e Reino Unido.
A sugestão do parlamentar da CDU causou críticas de vários políticos alemães, incluindo de seu próprio partido. Na Alemanha, a rejeição às armas nucleares é muito forte.
O governo em Paris gasta cerca de 3,5 bilhões de euros por ano para manter seu estoque de armas nucleares e planeja gastar 5 bilhões de euros anuais a partir de 2020 para modernizar sua capacidade nuclear.
Os testes nucleares franceses foram encerrados em 1996, depois de um teste no sul do Pacífico ter causado protestos em todo o mundo.