Wagner Victer: "Se a refinaria não vier, teremos um pólo petroquímico"

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Publicado Sábado, 03 de Abril de 2004 às 13:52, por: CdB

Quando criança, ele se aventurava nas ondas das praias da Ilha do Governador formadas pelo mergulho dos grandes navios lançados pelos estaleiros do bairro. Os estaleiros, desativados anos mais tarde, voltariam com fôlego financeiro na gestão daquele garoto que pegava a prancha e esperava o maior navio ganhar as águas para se aventurar na melhor onda.

Ainda hoje, o rapaz graduado em engenharia sonha grande. Sem a prancha da infância, ele consegue concretizar projetos e sonhos com a paciência de quem navega por alto mar à espera de pescas mais ousadas. Atual secretário de Estado de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer toma decisões anuais que envolvem R$ 5 bilhões, uma cifra de causar invejas a governos. "Ousar, essa é a palavra", diz ele.

Dita isso enquanto mira o olhar experinte de engenheiro licenciado da Petrobras na campanha pela refinaria em Campos dos Goytacazes, Norte fluminense, produtor de 83% do petróleo nacional. Nesta entrevista ao Correio, concedida na quinta-feira, lembra que o oleoduto proposto pela Petrobras é um antiprojeto diante das ameaças ambientais. "O Rio perde, por ano, R$ 5,4 bilhões só na questão do recolhimento do ICMS em São Paulo. O Rio produz 83% do petróleo nacional e só refina 12%; São Paulo nada produz e refina 44%. Quando o petróleo acabar, Campos será a Serra Pelada do século 21. A refinaria tem que ser aqui", afirma, na entrevista abaixo.

O que falta para o Rio ganhar uma refinaria da Petrobras?

Faço uma pergunta: e se o oleoduto fosse ao contrário, de São Paulo para o Rio, deixariam fazer? O Rio perde, por ano, R$ 5,4 bilhões só na questão do recolhimento do ICMS em São Paulo. O Rio produz 83% do petróleo nacional e só refina 12%; São Paulo nada produz e refina 44%. É uma questão de buscar entendimento. É um processo de conquista, de não acomodar. Conseguimos fazer o pólo Gás-Químico (em Duque de Caxias), retomar a indústria naval, construir termelétricas, chegamos a 240 postos de Gás Natural Veicular. Podemos mais.

E qual o argumento-chave nessa negociação com a estatal?

Destaco que o petróleo vai acabar e aquela região (Campos), quando o petróleo deixar de existir, vai virar a Serra Pelada do século 21. Esse é o principal argumento. Campos produz 1,3 milhão de barris por dia, quase o que o Catar produz. Você não pode tirar toda aquela riqueza sem pagar o ICMS - o royalte é uma indenização para contrapartida social. Esse oleoduto é uma torneira da bacia de Campos em São Paulo. Coloca-se o petróleo em São Paulo sem dar um furo.

Mas mesmo com a refinaria lá, o petróleo acabará um dia na região e a economia vai declinar consideravelmente...

Pode-se receber o petróleo de outros Estados, de navio.

Há viabilidade nesse projeto da Petrobras para o Oleoduto?

O oleoduto é um grande risco ambiental. Cruzará 100 rios do Estado, passando por 19 cidades. Cruza o rio Guandu, que abastece toda a cidade do Rio de Janeiro, as reservas de Poço das Antas, Tinguá e Guapimirim. Ficamos com todo o risco ambiental, não ganhamos tributo e perdemos a arrecadação.

E o que a estatal alega para isso?

A empresa quer melhorar o plano de logística dela. É um argumento legítimo, mas os benefícios financeiros privados não podem superar o benefício da sociedade. Isso é um paulistoduto.


O alto escalão do governo Lula é composto na maioria por paulistas. Há um jogo poítico nisso?

Há um princípio para nós, do governo do Rio: nos recusamos a disputar com outros Estados a refinaria. Não fazemos gincana nem bingos. Nós demos incentivos para a P-51, damos muito carinho e amor à Petrobras, e pelo ditado popular, isso se retribui com carinho e amor. Como sou engenheiro, prefiro usar a Lei de Ne

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