Brasil virou vergonha internacional

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Publicado Quinta, 28 de Dezembro de 2017 às 17:02, por: CdB

Estava procurando uma coluna para fechar este ano de 2017. Diversas opções, mas de repente me surgiu esse texto de 2008, do Cesar Benjamin, cujo passado não se discute, que coincide, justamente, com minha interpretação do lulismo. Com algo mais, e que devemos pensar para entender esse Brasil de hoje, a ideia do rebaixamento em tudo. Até na música, acrescento. Tudo foi rebaixando, tanto, que o Brasil afundou. Como um fogo fátuo, que já é provocado pela podridão, o Brasil de Lula teve seus momentos de glória, para depois despencar. Hoje nem mais é o país do futuro, predito pelo míope do Stefan Zweig, é o país do passado, onde tudo se deteriorou. Para completar essa catástrofe brasileira, só falta mesmo anularem a Lava Jato e libertarem e indultarem todos os culpados, acusados e presos. Menos o Marin que ficará preso nos EUA. Acabou! Não há mais nada a esperar - a esquerda se não é desatualizada e anacrônica falhou quando estava no poder. Deixou uma herança negativa, difícil de ser resgatada. E é verdade, Cesar Benjamin, previa isso em 2008, quando Lula ainda governava e como a tevê brasileira, nivelava nossa cultura e esperanças por baixo. Deu nisso, deu nessa vergonha internacional. Será que tem sentido eu desejar aos leitores um Bom Ano Novo? (Nota do Editor, Rui Martins).

Por Cesar Benjamin, do Rio de Janeiro:

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Cesar Benjamin previu onde levaria o rebaixamento generalizado criado por Lula

O facebook me traz de volta um post de 2015, que, por sua vez, reproduzia uma entrevista de 2008. Era a época de auge do lulismo. Eu era uma voz isolada. Mas ali, naquele auge, estavam se plantando as raízes da grande crise atual.

Bati os olhos na entrevista que dei ao Zuenir Ventura para o livro "1968: o que fizeram de nós", publicado em 2008. Transcrevo três pequenos trechos abaixo. Não tenho bola de cristal. Só não viu quem não quis. Ou quem não teve coragem para ver. Abraços. Cesar Benjamin.

ZUENIR VENTURA – Qual a sua maior crítica ao governo Lula?
CÉSAR BENJAMIN – É ter rebaixado os horizontes de expectativa da nação. Um povo não se define tanto pelo que é, mas pelo que quer vir a ser. Nosso horizonte está muito rebaixado, ficou pequenininho. Os políticos se apresentam como campeões da caridade, e não como portadores de projetos para o país. O Lula disseminou isso, com sua enorme capacidade de nivelar por baixo e cooptar. O MST tem convênios com o Incra, o PC do B tem o Ministério dos Esportes, o banqueiro tem o juro, o pobre tem o Bolsa Família. Todo mundo se dá um pouquinho bem, enquanto o Brasil caminha alegremente para o cu do mundo. [...]

ZUENIR VENTURA – Otimista por natureza, você parece ter feito a opção pelo pessimismo.
CÉSAR BENJAMIN – Não sou pessimista. Mas também não quero aderir ao otimismo idiota do marketing. Quero ajudar a reconstruir um otimismo que decorra de um pensamento robusto e de uma vontade vigorosa. Eu não acho que o Brasil não vai dar certo. Mas, para que dê certo, precisamos fazer um imenso esforço intelectual, político e moral. Precisamos pensar e trabalhar seriamente. [...] A política institucional brasileira faliu. Estamos vivendo o fim do impulso que a sociedade teve nos anos 80, com o fim do regime militar e a redemocratização, que construiu atores, esperanças e instrumentos novos, como a Constituição de 88, o Ministério Público, as eleições diretas, movimentos sociais, PT, MST, CUT, etc. Esse processo deu, à minha geração, a esperança de conseguir fundir democracia e justiça social. O Lula de 89 representava esse impulso renovador, que sofreu um baque com a eleição de Collor. Mas o impulso permaneceu vivo enquanto existiu uma oposição pulsante ao projeto de desconstrução de Collor e Fernando Henrique. Permaneceu existindo uma esperança, a idéia de que um dia isso ia chegar lá! Quando o Lula ganha em 2002 e, junto com o PT, rasga a fantasia, integrando-se ao sistema tradicional de poder, o impulso reformador dos anos 80 se esgota. Começa a anomia. Hoje, os partidos só discutem o loteamento de cargos, muitos dos quais, aliás, perfeitamente medíocres.

ZUENIR VENTURA – Por que há tanto interesse em nomear um diretor do DNER?
CÉSAR BENJAMIN – Porque cada órgão, cada diretoria, gerencia orçamentos, organiza licitações, faz compras, atende ou deixa de atender pedidos, e é isso que interessa. A democracia recente brasileira – o governo Lula acelerou esse processo – criou lobbies que pilham sistematicamente o Estado nacional. O Estado deixou de ser um espaço organizador de um projeto e se transformou em um terreno aberto à acumulação primitiva. O presidente do Brasil tem 25 mil cargos para nomear, enquanto o presidente da França tem 300. Com isso, ele quebra a espinha do Congresso, que se apequena e passa a viver em torno dessas negociatas. Tem gente boa lá, mas a banda podre é que se sente prestigiada e cresce. Estabelecem-se relações cínicas, que contaminam toda a nação.

César de Queiroz Benjamin  é um cientista político, jornalista, editor e político. Durante a ditadura militar (1964-1985), participou da luta armada contra o regime, foi perseguido, preso e exilado. Cofundador do PT, foi também filiado ao PSOL, tendo se desligado dos dois partidos. Atualmente é o editor da Contraponto Editora, colunista da Folha de S. Paulo e secretário da Educação na cidade do Rio de Janeiro.

 

Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.

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