A “doença argentina” e as galinhas brasileiras

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Publicado segunda-feira, 26 de junho de 2006 as 10:49, por: CdB

No último quarto do século XIX, depois do fim da Guerra do Paraguai, entre 1870 e 1914 – como no caso dos Estados Unidos, Alemanha e Japão – a economia e a sociedade argentinas viveram uma “Idade de Ouro”: neste período de 34 anos, o PIB argentino cresceu de forma contínua, a uma taxa média de cerca de 7% ao ano – a maior do mundo, no período – ao mesmo tempo em que crescia a renda per capita dos argentinos, a uma taxa de 3,8%, igualmente, a maior do mundo. Como conseqüência, no início do século XX, a renda per capita dos argentinos era quatro vezes maior do que a renda dos brasileiros, e o dobro da renda dos norte-americanos.

O crescimento da economia Argentina, depois da Guerra do Paraguai, foi liderado, na maior parte do tempo, pela exportação agro-pastoril, mas se deu também na indústria, e na maior parte do tempo, foi também induzido pelos investimento na construção da extensa rede ferroviária que integrou o mercado nacional argentino, antes do fim do século XIX. Sua pauta de exportações agrícolas era diversificada, e sua população já vivia predominantemente nas regiões urbanas, onde 64% trabalhavam na industria, comercio ou setor de serviços.. Por fim, no início do século XX, 1/3 dos argentinos viviam em Buenos Aires, uma cidade sofisticada, com alto nível educacional e cultural, e que foi durante muito tempo, uma espécie de capital européia da América Latina.

Em síntese, na véspera da 1º Guerra Mundial, a Argentina era o país mais rico do continente latino-americano, era um dos dez países mais ricos do mundo, e tinha todas as condições para se transformar na potência hegemônica da América Latina, e numa potência econômica mundial. Mas não foi isto que aconteceu. Sobretudo depois de 1930, quando a Argentina começa a perder o impulso econômico da sua Idade de Ouro, e sofre um processo social de fragmentação política, cada vez mais profunda e radical.

Mais recentemente, entre os economistas, e em particular entre os neoliberais, se transformou num lugar comum atribuir a responsabilidade deste “fracasso argentino” ao “populismo macroeconômico” do governo Perón. Apesar de que Juan Domingo Perón só tenha governado a Argentina entre 1945 e 1955, e depois, muito rapidamente, entre 1973 e 1974. E apesar de que todas as evidências indiquem que foi nas décadas de 1930 e 1970 que a economia argentina perdeu de fato, o seu fôlego expansivo, atrasando-se com relação ao ritmo dos seus concorrentes mais próximos.

Exatamente nas duas décadas em que a Argentina enfrentou duas grandes crises internacionais, e respondeu à turbulência global reforçando sua opção do século XIX, por uma “economia aberta”, e por uma política econômica ultra-liberal. Primeiro, nos anos 30, com a “restauração conservadora” do Gal. Justo, e depois, nos anos 70, com o “fascismo de mercado” do Gal. Videla e do ministro de economia, Martinez de Hoz, que implantaram na Argentina, o modelo político-econômico que já havia sido introduzido no Chile, em 1973, e no Uruguai, em 1974.

Segundo estimativa do economista argentino, Ernesto Lavagna, entre 1930 e 1945, o Brasil cresceu a uma taxa média que duplicava seu PIB a cada 28 anos, enquanto a Argentina, precisaria de 42 anos para fazer o mesmo. E de novo, na década de 1970, o Brasil cresceu a uma taxa que duplicava seu PIB a cada 9 anos, enquanto a Argentina precisaria de 29 anos. Mas atenção, porque mesmo depois da 1º Guerra Mundial, e da crise de 1930, a economia Argentina seguiu crescendo e se industrializando, e a sua sociedade seguiu enriquecendo e sofisticando-se. De tal forma que o PIB argentino só foi superado pelo Brasil e pelo México, na primeira metade da década de 50, e apesar disto, a renda per capita e o nível educacional da população argentina seguiu sendo, quase o dobro da brasileira e da mexicana até o final do século XX.

O problema é que depois de 1930, o crescimento da economia argentina se deu de forma cada vez mais instável, com uma sucessão de ciclos econô