Tão ou mais importante quanto esclarecer toda a verdade sobre as atuais denúncias contra o PT, bem como punir os envolvidos, é enfrentar a seguinte questão: como financiar a atividade política de um partido de trabalhadores? Uma coisa é certa: não se deve confiar no inimigo de classe.
Como financiar a atividade política de um partido de trabalhadores? Não há resposta fácil para esta questão, especialmente em épocas de refluxo e crise econômica, que reduzem o nível de mobilização, organização, a consciência e a renda dos trabalhadores.
Na América Latina, nos últimos setenta anos, diversas organizações de esquerda (ou tidas como tal) tentaram de tudo: do “ouro de Moscou” ao “bom burguês”, do assalto ao “cofre do Ademar” aos seqüestros, das expropriações aos empreendimentos empresariais controlados por militantes, da cotização individual ao uso de recursos sindicais, do financiamento privado ao financiamento público etc.
Deve existir, mas desconheço, um estudo completo sobre este tema, sem dúvida um dos aspectos da crise vivida, hoje, pelo PT.
Sustentado inicialmente por contribuições militantes, cotização de parlamentares e cargos comissionados, bem como por recursos advindos da venda de materiais e do apoio de estruturas e simpatizantes mais bem aquinhoados, o PT tornou-se nos anos 1990 beneficiário de recursos públicos, por meio do Fundo Partidário. Este Fundo, proporcional ao desempenho eleitoral do Partido, tornou-se rapidamente a principal fonte de recursos do PT.
O mecanismo acabou ajudando a produzir uma crescente dissociação entre as finanças do Partido e a adesão militante. Noutras palavras: o Partido pôde construir estruturas permanentes ou temporárias, sem que isto dependesse da contribuição voluntária de suas bases. Como é óbvio, isso deu maior autonomia para a “burocracia partidária” na condução do Partido, autonomia que antes era privativa das estruturas políticas montadas a partir de gabinetes parlamentares ou do espaço conquistado em governos.
Tanto o fundo público, quanto as demais estruturas dependiam, em última análise, do voto. Também em meados dos anos 1990, entra em cena o financiamento privado das campanhas, que permitiu dissociar progressivamente o desempenho eleitoral do envolvimento voluntário e consciente da militância.
Como sabemos, o financiamento privado de campanhas (legal ou ilegal) foi o combustível da americanização das campanhas eleitorais brasileiras, que fez os candidatos serem tratados como “produtos” e o eleitorado, como “mercado consumidor”. Um dos maiores símbolos da capitulação do PT a este processo, foi a contratação de Duda Mendonça para dirigir o “marketing” da campanha Lula. Vale a pena lembrar que levamos essa contratação a voto, no Diretório Nacional do PT. E perdemos.
Como resultado da “americanização”, as campanhas tornaram-se caríssimas, não apenas devido aos custos de produção dos programas dedicados ao horário eleitoral supostamente gratuito, mas também por conta da contratação de shows (em 2004, o Diretório Nacional empatou 21 milhões apenas com isso).
O financiamento público torna o partido dependente do Estado. O financiamento privado torna o partido dependente do apoio do empresariado. Evidentemente, para um partido de trabalhadores, há aí uma contradição, que tende a tornar-se explosiva com o passar do tempo.
Ao longo dos últimos dez anos, vimos de tudo: desde empresas que contribuíam porque seus donos aparentemente concordavam com os objetivos programáticos do PT, passando por empresas que contribuíam porque percebiam que isso permitia evitar governos corruptos de direita, até empresas que contribuíam com o objetivo de cooptar o Partido para suas propostas ou para seus esquemas de tráfico de influência.
O problema é que, para um partido de trabalhadores, a dependência em relação ao financiamento privado de campanhas altera, no médio prazo, seus vínculos de classe. Trata-