A Galera do Mal apresenta adultos imbecis

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Publicado quarta-feira, 22 de dezembro de 2004 as 13:29, por: CdB

Macaulay Culkin contribui com sua beleza angelical para A Galera do Mal, comédia sobre o mundo teen que, infelizmente, não conta com John Hughes. Sátira irreverente das transgressões mais exageradas do cristianismo fundamentalista, A Galera do Mal, que estréia nesta sexta-feira no país, é estrelado por Mandy Moore no papel de uma beldade que “se encontrou em Jesus” e usa sua fé para fomentar a causa da pessoa mais importante de sua vida, ela mesma.

O estilo irreverente do filme e seu viés antiautoritário devem lhe valer um público teen entusiástico.

O filme, que teve uma recepção calorosa no Festival de Sundance – que destaca o cinema independente e, portanto, não chega a representar o grande público americano -, lança farpas afiadas contra um alvo óbvio: os excessos cometidos em nome da religiosidade americana.

Como as melhores comédias voltadas ao público teen, A Galera do Mal critica as figuras de autoridade que conspiram contra os adolescentes. No filme, a influência dominante no colégio cristão em que a história se passa é formada pelas lideranças religiosas.

Sempre é divertido criticar quem está no poder, especialmente quando essas pessoas utilizam suas posições em benefício próprio. A personagem mais odiosa é a manipuladora Hilary Faye (Mandy Moore), a garota mais popular do colégio, que utiliza as figuras e estruturas da hierarquia religiosa da escola para consolidar seu próprio “poder”.

Linda e traiçoeira, Faye é facilmente reconhecível como o tipo de pessoa que se mete na vida dos outros. Ela é a líder da turma das “jóias cristãs”, o clube de “garotas do Senhor”. Em A Galera do Mal, os adultos são todos imbecis.

Sob a direção irônica de Brian Dannelly, A Galera do Mal ressalta o aspecto traiçoeiro dos colégios modernos, repletos de personagens estereotipados e convenções genéricas. Infelizmente o filme peca por glorificar suas próprias subversões, tornando-se arrogante.

Há momentos de loucura messiânica hilária, desde a turma dos skatistas de Cristo até os sermões açucarados do manda-chuva do colégio, o pastor Skip (Martin Donovan).

Os retratos mais generosos são os de “outsiders” que estudam no colégio: uma garota judia (Eva Amurri) e um aluno paraplégico (Macauley Culkin). Da tribo de seguidores, eles são os que melhor enxergam a hipocrisia e o fascismo inerentes ao sistema social/religioso vigente no colégio.

O elenco bem escolhido – principalmente Mandy Moore no papel da líder manipuladora da turma e Eva Amurri como a heroína iconoclasta – trava uma luta com proporções de guerra santa. Culkin, no papel do “irmão de fé” cínico, preso a uma cadeira de rodas, se mostra espirituoso, e Jena Malone convence bem como Mary, uma “boa menina” cujo último ano no colégio vira um pesadelo quando ela engravida e é transformada em pária por Faye e suas seguidoras.