O Governo Federal tem em seu orçamento um bom dinheiro pra Comunicação Social, destinado na quase totalidade a pagar a publicação de mensagens nos veículos privados. Isso inclui campanhas de saúde, como as de vacinação, publicidade comercial, como as do Banco do Brasil, e até editais. Mas o grosso mesmo é a grana da mídia, pelo apoio que lhe dá
Por Jaime Sautchuk - de São Paulo:
O “normal” é que os ocupantes do Palácio do Planalto, ministérios, órgão e empresas públicas federais em geral privilegiem aqueles veículos mais simpáticos a eles. Michel Temer, por exemplo, tem agradado com benevolência aqueles que apoiaram ou até participaram do golpe que o colocou no poder.
Há exemplos explícitos, descarados. Ao final do primeiro ano de governo; Temer foi agraciado com o título de “Homem do Ano” pela revista IstoÉ. Por coincidência, a participação desse órgão da imprensa golpista no rateio da mídia; em dezembro de 2016; foi 500% maior do que no ano anterior.
Nem se fala do sistema Globo, que tradicionalmente abocanha a maior fatia; mas no momento atual tem batido recordes de ganhos; pelas razões mais do que óbvias. O fato é que nunca na história do Brasil foi tão grande a unanimidade da grande; mídia em favor dos ocupantes do poder; nem mesmo durante a ditadura militar.
Mídia alternativa
É de se supor, pois, que com governos progressistas no poder a mídia alternativa; afinada com seus ideais; fosse beneficiada pelas verbas oficiais. Mas, não foi o que ocorreu durante as gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Nesse período, foi instituída uma tal de “mídia técnica”, eticamente louvável; mas que, no final das contas, acabou privilegiando os mesmos.
Revista Caros Amigos
Neste mês de março de 2018, deixou de circular a revista Caros Amigos; após incansáveis 20 anos existência. Um de seus colunistas mais assíduos, o sociólogo Frei Betto; escreveu seu último artigo visivelmente desolado. Ele diz:
“O paradoxal é que faltaram recursos à revista exatamente a partir de um momento em; que o Brasil passou a ser governado por um partido de ‘esquerda’. Supõe-se que, para assegurar a governabilidade, um governo progressista dê sustentação à mídia progressista. Assim como ocorre na esfera das forças de direita.”
E arremata:
“Não foi o que aconteceu”.
Os exemplos
No entanto, nisso a Caros Amigos não esteve sozinha. Seriam muitos os exemplos, mas eu mesmo; como jornalista, fui (ou sou) protagonista de um deles; como um dos dois editores da revista Xapuri Socioambiental; que é mensal e já está no seu quarto ano de vida.
Ainda no primeiro governo e Dilma, eu e a jornalista Zezé Weiss, que; além de também editora da Xapuri; cuida do caixa da revista, fomos ao Palácio do Planalto conversar; com o comando da Comunicação Social do governo federal.
Fomos informados de que teríamos de enquadrar a publicação nos critérios da “mídia técnica”; que incluía comprovante de circulação da revista impressa e de visualização e leitura de sua versão digital; entre outras condições.
Mídia oficial
Nós cumprimos todas a exigências e formalizamos uma proposta de inserção da revista na chamada mídia oficial. Eram quantias irrisórias diante do que; abocanhavam os grandes veículos naquele período.
Mesmo assim, contudo, foi um vaivém de mais informações, novas exigências; por nós sempre cumpridas à risca. Mas, dinheiro que é bom, necas. Nunca apareceu um tostão sequer.
Jaime Sautchuk, é jornalista.