Este foi o ano em que os Estados Unidos sofreram a maior derrota militar desde o final da guerra do Vietnã, nos anos 70. Apesar da superioridade tecnológica, o exército norte-americano foi incapaz de controlar a guerrilha islâmica e a violência explodiu entre sunitas e xiitas no país ocupado. O número de mortes foi elevado a taxas nunca vistas na história milenar daquela região. Civis e soldados norte-americanos, que em dezembro pediram reforços a Bush, morreram e continuam morrendo em explosões de carros-bomba, confrontos diretos e ações de sabotagem.
No início de novembro, com os eleitores revoltados com tantas mortes de soldados norte-americanos na guerra do Iraque (mais de 2 mil até agora), o Partido Republicano, do presidente Bush, foi derrotado pelos democratas nas eleições legislativas. O resultado antecipa as discussões sobre a sucessão de Bush em 2008. No dia seguinte à derrota política o presidente afastou o secretário de Defesa que arquitetou a estratégia americana no Iraque, Donald Rumsfeld. Colocou em seu lugar Robert Gates, ex-diretor da CIA (a agência de inteligência dos EUA).
As dificuldades dos norte-americanos no Iraque, no entanto, devem continuar em 2007. A resistência à ocupação ocidental não dá sinais de trégua e os extremistas da al-Qaeda mantêm as ameaças ao governo Bush. Os norte-americanos esperam que Bush reduza o contingente de 140 mil soldados que hoje combatem no Iraque. Mas a comunidade internacional teme que uma debandada do Exército dos EUA leve ao acirramento dos confrontos entre xiitas, sunitas, curdos e terroristas sem identidade religiosa definida. Resta saber o que Bush, pressionado de todos os lados, fará agora.
Derrota
Fiel escudeiro de Bush no conflito iraquiano, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, admitiu publicamente que a violência no Iraque desde a invasão liderada pelos EUA em 2003 tem sido um “desastre”. A declaração do primeiro-ministro foi feita durante uma entrevista ao apresentador David Frost, que foi ao ar no novo serviço de língua inglesa do canal de TV árabe Al Jazeera. Integrantes do Partido Liberal Democrata aproveitaram o pretexto para afirmar que Blair finalmente aceitou “o absurdo” de sua decisão de ir à guerra no Iraque.
Mas o governo britânico insiste que as declarações de Blair foram mal-interpretadas. O entrevistador havia provocado Blair, dizendo que a intervenção ocidental no Iraque havia sido “até agora um desastre”.
Blair respondeu:
– Tem sido, mas você vê, o que eu digo às pessoas é ‘por que é difícil no Iraque?’. Não é difícil por causa de algum acidente no planejamento. É difícil porque existe uma estratégia deliberada – da Al Qaeda com os insurgentes sunitas de um lado, e de elementos apoiados pelo Irã com as milícias xiitas de outro – para criar uma situação na qual o desejo de paz da maioria é deixado de lado pelo desejo de guerra da minoria.
Explicações
Um porta-voz do governo tratou de explicar o comentário.
– Ele (Tony Blair) estava simplesmente recebendo a pergunta de maneira educada antes de explicar seu ponto de vista – disse o porta-voz.
– Tratar isso como uma admissão é totalmente falso.
A declaração ocorre depois de a ministra de Comércio, Margaret Hodge, ter afirmado em um encontro de apoiadores do Partido Trabalhista que a guerra do Iraque havia sido “o grande erro” de Tony Blair no que diz respeito a relações internacionais.
Blair foi o primeiro entrevistado do programa Frost Over the World na Al Jazeera International. O novo serviço em inglês entrou no ar nesta quarta-feira.
Na entrevista, o primeiro-ministro afirmou ainda que Irã e Síria poderiam ter uma papel “construtivo” no Oriente Médio.
Ele disse que garantir o progresso no Oriente Médio teria uma grande “importância simbólica”.
– Isso enviaria ao mundo inteiro um sinal de que esta não é uma guerra entre ocidentais ou cristãos e m