"A política econômica deve combater a fome e a miséria"

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Publicado Domingo, 11 de Abril de 2004 às 06:11, por: CdB

Há 20 anos, a médica curitibana Zilda Arns Neumann foi colocada à prova na iminência de encarar o maior desafio de sua vida. Ela capacitava as primeiras líderes para atuarem pela Pastoral da Criança em Florestópolis, interior do Paraná, quando médicos da região, incrédulos quanto ao seu programa inovador de combate à desnutrição, encaminharam a ela um bebê desidratado. Queriam saber se o tratamento com soro caseiro, proposto pela Pastoral como instrumento básico de combate à mortalidade infantil, resolveria aquele caso.

Zilda não só provou que eles estavam enganados quanto à ineficiência dos resultados como fincou ali a primeira de muitas bases da Pastoral no país, uma entidade que se fortaleceu com um trabalho de cooperação, conscientização e valorização do ser humano.     
 
Duas décadas de trabalho lançaram a Pastoral aos holofotes internacionais. A entidade conta hoje com mais de 240 mil voluntários, ganhou dezenas de prêmios e a médica pediatra não dá sinais de desânimo, embora viva um momento dúbio. Enquanto comemora com méritos o sucesso, mira um olhar preocupado sobre os rumos da política econômica e os desacertos do governo Lula, que ainda apóia. Mas a aprovação à administração federal torna-se menos eufórica à medida que Zilda Arns, a exemplo de outros críticos, aponta discordâncias nos atos do PT como governo.

“O Fome Zero não deve estar sujeito à política econômica. É hora de mudar esse paradigma. É a política econômica que deve estar sujeita ao combate à fome e à miséria”, defende. Ela cita a reforma agrária, entre outras ações, como um meio imediato de inclusão social e propõe maior integração entre os ministérios para o combate à pobreza. Fala também das metas da Pastoral – atender a 10% das crianças pobres do Brasil a partir desse ano - e sobre a possibilidade de ser agraciada com o Nobel da Paz.
 
 
 
Você acredita numa queda brusca da mortalidade infantil no Brasil? O que mais poderia ser feito no âmbito político e social?
 
Muitas crianças ainda morrem de doenças que poderiam ter sido facilmente prevenidas, como a diarréia, as doenças respiratórias e perinatais. No entanto, este número tem diminuído a cada ano no Brasil devido ao esforço conjunto de governo, empresas, ONGS e a sociedade civil como um todo.

Nas comunidades acompanhadas pela Pastoral da Criança, a mortalidade infantil em 2002 foi de 14 mortes por mil crianças nascidas vivas, enquanto a média nacional neste mesmo período, segundo dados do IBGE, foi de 29 por mil.  Hoje, as causas de mortalidade infantil não são as mesmas de 20 anos atrás. Antes, a desnutrição estava fortemente ligada à mortalidade infantil no Brasil. Nos últimos anos, as principais causas de morte da criança estão relacionadas ao período perinatal. As novas descobertas no campo do desenvolvimento infantil contribuem para a concepção da criança em seu desenvolvimento global. Isto não estava tão claro no passado.

A sociedade, o governo e a Igreja estão mais sensíveis a iniciativas conjuntas relacionadas ao trabalho social. A colaboração intersetorial é uma conquista que deve existir em qualquer tempo. Mas é preciso adaptar-se constantemente aos novos problemas, buscando soluções criativas, simples e que possam ser multiplicadas em grande escala, sem perder a eficiência. 
 
 
Quais políticas os governos, nas esferas federal, estadual e municipal, poderiam implementar para o crescimento do programa?
 
Os governos, em suas diversas instâncias, precisam combinar a promoção humana, a reforma agrária e outras políticas estruturantes, sem as quais não reduziremos as desigualdades sociais. Portanto, é de suma importância que os governos saibam operar a relação interministerial, de modo que todos os seus ministérios estejam plenamente harmonizados na política de

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