A teórica passagem de comando militar para o Governo Interino Iraquiano

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Publicado quarta-feira, 30 de junho de 2004 as 02:43, por: CdB


Formalmente, a ocupação no Iraque terminou. Foi entregue pelos Estados Unidos, na última segunda-feira, o poder aos iraquianos.
O ato foi uma ótima estratégia da Casa Branca, que conseguiu de uma só vez fazer três boas tacadas: evitar uma onda de ataques que estava sendo prevista para o dia 30 de junho, já que era a data anunciada para essa transição, “trocar” a pauta da reunião da OTAN em Instambul, onde Estados Unidos e Inglaterra estavam cercados pela pressão da atual situação do Iraque e agradar o eleitorado norte-americano, mostrando que o poder não só foi realmente entregue como também, antes do prazo prometido.
Contudo, na prática, pouca coisa deve mudar.
Na esfera militar, o novo governo adquiriu o poder de pedir a retirada das tropas de coalizão do país, uma exigência praticamente imposta por outros países dos quais os EUA buscavam apoio, como Alemanha e França. Por uma manobra política, os próprios governantes, todos escolhidos pela administração de Paul Bremer, escreveram um pedido para que as tropas de coalizão permaneçam no país.
A questão da segurança é a fundamental para que o tão sonhado processo de democratização aconteça, então, a presença de tropas estrangeiras acaba sendo uma “faca de dois gumes”.
O Iraque não dispõe de uma polícia ou de soldados armados e treinados o suficiente para colocar ordem nas rebeliões ou controlar os insurgentes do antigo partido Baath. Ao passo que, muitas das rebeliões acontecem justamente em protesto pela presença estrangeira. E ainda há a difícil situação de controlar uma possível guerra civil entre xiitas (maioria no país), sunitas (antigos controladores do poder) e curdos (minoria).
A presença militar dos norte-americanos no país (dos 150 mil soldados, 100 mil fazem parte do exército dos EUA) é problemática também pela questão de que estes não estão sendo responsabilizados pela morte de civis e por ações como as de torturas nas cadeias iraquianas.
Washington já anunciou planos de manter o controle legal sobre suas tropas no país – para evitar que seus soldados estejam sujeitos aos tribunais iraquianos. A idéia é fazer o mesmo que acontece no Afeganistão, onde as tropas estrangeiras não estão sob as leis afegãs.
Houve uma tentativa por parte dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha de fazer com que a OTAN enviasse tropas para o Iraque, contudo, o pedido foi negado. O máximo que conseguiram obter foi um acordo para que a OTAN ajude no treinamento dos soldados iraquianos.
Mas o maior sonho anglo-americano era com certeza jogar a batata quente em que se transformou a segurança no Iraque, nas mãos de um possível exército de reconstrução da ONU. Pedido já veementemente negado pela Organização, que não apoiou a invasão do país.
A situação ficará mais ou menos como a entrega de Saddam para os iraquianos, apenas no papel, pois o ex-ditador ainda continuará sob “posse física” dos norte-americanos.