Como todos puderam acompanhar pela imprensa, de 1 a 17 de maio aconteceu a Marcha Nacional pela Reforma Agrária, organizada pelo MST e com apoio dos demais movimentos da Via Campesina e de muitas entidades, entre elas a CNBB e a CRB. A Marcha foi vitoriosa por aquilo que fez o governo se comprometer em realizar e pelos seus 17 dias de caminhada organizada e pacífica. No final a Polícia Militar do DF tentou desmoralizar a marcha, agindo com violência diante de um pequeno problema. A única parte negativa da marcha realmente foi aquele confronto com a polícia, que em grande parte foi por culpa da própria polícia. Mas em 99,9% de sua expressão a marcha deixou uma impressão muito positiva. Representou um ato cívico e democrático em defesa da soberania do nosso país. Os 12 mil marchantes que íamos de cabeça erguida para Brasília, carregávamos o sonho de milhões de brasileiros que querem justiça, paz e dignidade para todos (as).
O governo federal se comprometeu em liberar os recursos necessários para cumprir a meta de assentar 115 mil famílias este ano e um total de 400 mil até 2006. Também prometeu contratar 137 servidores para o INCRA e abrir concurso para 1.300 vagas. O governo assumiu o compromisso de em breve divulgar o novo índice de produtividade das propriedades rurais, que são baseadas em dados de 1975 e 1995. Entre outros compromissos que o governo assumiu com o MST, está o aumento do teto de financiamento do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), de 15 mil para 18 mil reais e instituir um crédito de recuperação de assentamentos de 6 mil reais por família. Essas conquistas significam uma vitória para a Marcha Nacional pela Reforma Agrária. Claro que deveria haver um comprometimento muito maior por parte do governo. Pois, tudo isso ainda é pouco para um setor tão importante como a Agricultura Familiar, que hoje é responsável por 10% do PIB nacional e por 95% do pessoal ocupado no campo.
A realização da Reforma Agrária no Brasil é uma questão de justiça com milhões de brasileiros que ao longo da história não tiveram acesso a terra e a tantos outros direitos básicos. Enquanto muitos ficaram excluídos, alguns poucos se apoderaram das terras brasileiras como se este fosse um país de ninguém. Enquanto o governo não realizar uma verdadeira Reforma Agrária, ele estará demonstrando que não tem em suas mãos o controle do país e que ainda somos uma pobre nação governada pelas oligarquias. Além de ser uma questão de justiça, a Reforma Agrária é uma necessidade para o desenvolvimento do Brasil. Podemos crescer muito, mas enquanto não houver uma radical mudança na distribuição das terras, continuaremos sendo um país atrasado.
A marcha do MST lembrou ao governo a toda a sociedade brasileira que é preciso fazer a Reforma Agrária e cuidar da Agricultura Familiar. A marcha que demonstrou capacidade de organização e diálogo e a força política do MST, também desafia a todos nós brasileiros a não nos acomodarmos, mas ajudar a construir o Brasil que queremos.
*Frei Pilato Pereira é Frade Capuchinho, de Santa Maria – Paróquia Nossa Senhora de Fátima e participou da Marcha Nacional pela Reforma Agrária.