O Brasil está próximo de firmar um acordo que permitiria à ONU realizar inspeções em sua instalação de enriquecimento de urânio, disse na segunda-feira o ministro Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia). Inicialmente, o governo resistiu à pressão norte-americana para permitir inspeções mais rígidas.
Campos disse que o acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU) deve atender às preocupações internacionais e, ao mesmo tempo, proteger a tecnologia brasileira de enriquecimento nuclear.
``Teremos um bom acordo, só precisamos fazer alguns ajustes técnicos para acomodar os interesses da agência e proteger os interesses em relação à tecnologia'', disse ele a jornalistas, após reunião com o secretário de Energia dos Estados Unidos, Spencer Abraham, em Brasília.
Os EUA querem que todos os países que desenvolvem a tecnologia de enriquecimento firmem o chamado Protocolo Adicional ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear, para garantir que materiais físseis não caiam nas mãos de grupos que desejam fazer bombas radiativas.
O Brasil afirma seguir rigorosamente os termos de inspeção previstos no tratado e reluta em colocar sua tecnologia em risco, assinando o Protocolo Adicional. O governo está negociando com a agência nuclear da ONU para garantir que as inspeções na unidade de enriquecimento de Resende (RJ) não exponham o país ao que o chanceler Celso Amorim chamou de ''espionagem industrial''.
O Protocolo Adicional também exigiria que o Brasil apresente informações detalhadas sobre os fornecedores de seus equipamentos.
Na semana passada, os EUA disseram confiar na segurança nuclear brasileira e que a questão deve ser resolvida entre a AIEA, a ONU e o Brasil.
``Os EUA não estão aqui para dizer ao Brasil o que fazer'', disse Abraham a jornalistas, após discutir projetos de cooperação energética com ministros locais, em uma visita de rotina.
O Brasil pretende começar a enriquecer urânio neste ano, entrando assim para o restrito grupo dos países que detêm tal tecnologia. A medida atraiu a atenção internacional após relatos de que o governo teria negado acesso dos inspetores da ONU à unidade de Resende.
Os EUA e outros países temem que o Brasil estabeleça um precedente para países como o Irã, acusados de ocultarem projetos para desenvolver armas nucleares. O Brasil declara que o urânio enriquecido será usado apenas para geração de eletricidade.