Se existe um momento em que os cariocas invejam os paulistas é o da eleição estadual. Enquanto a competição em São Paulo costuma ser acirrada e sempre disputada por nomes de expressão nacional, as eleições no Rio de Janeiro, nas últimas edições, têm refletido o esvaziamento político da outrora capital federal.
- Pode ter um componente de decadência econômica, de perda da capital e do populismo forte. Aqui é a terra do chaguismo, do brizolismo, da família Garotinho, nesse esquema misturado com movimento evangélico, que é outra marca do Rio - diz o cientista político Jairo Nicolau, do Iuperj, salientando que o estado vive hoje um quadro de fragmentação, pois "não tem força dominante desde o declínio de Brizola".
Se as eleições fossem hoje, a vitória seria de Sérgio Cabral (PMDB), candidato apoiado pelo ex-governador Anthony Garotinho, que tem 41% da preferência do eleitorado, segundo a última pesquisa do Ibope divulgada nesta semana. Em segundo lugar, Marcelo Crivella (PRB) tem o apoio do presidente Lula e 17% das intenções de voto, seguido por Denise Frossard (PPS) com 12% e Eduardo Paes (PSDB), com 2%. Vladimir Palmeira (PT), também apoiado por Lula, Milton Temer (PSOL), e Carlos Lupi (PDT) estão empatados com 1%.
Senador, Cabral é pouco conhecido fora do Rio e seu nome não aparece entre os 100 parlamentares mais influentes do Congresso Nacional, levantamento promovido pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que identifica quem comanda o processo decisório no Congresso. No Estado, sua ação política sempre foi identificada com a terceira idade, apesar de ter 43 anos. Em recente programa eleitoral, pôs no ar sua mãe e sua avó para falarem de sua preocupação com os mais velhos.
Sua popularidade no Rio, porém, lhe valeu mais de 4 milhões de votos na eleição para o Senado, em 2002. Declarando-se de uma "neutralidade radical", Cabral evita críticas aos adversários, mas tem sido atacado por Lula nas visitas do presidente aos comícios de Crivella.
- Tenho certeza que o presidente Lula, se reeleito, terá um carinho especial com o Rio de Janeiro. A eleição para o governo do estado é regional e não nacional - afirma Cabral.
O presidente aposta suas fichas em Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal, e até já invocou relações divinas para pedir votos para o aliado. Crivella também investe no fator Lula.
- Meu principal concorrente tentou de toda forma convencer o presidente a afrouxar o apoio à minha candidatura, mas ele ficou firme. Ele me contou esse assédio e disse: Crivella, de uma coisa ninguém pode me acusar, não tenho duas caras. Prefiro correr o risco de perder com um aliado leal do que ganhar com um oportunista - disse Crivella, confiante que Lula o levará ao segundo turno.
A polarização entre Cabral e Crivella, que marca a campanha desde o início, pode ser ameaçada pelo crescimento da candidatura de Denise Frossard, que subiu quatro pontos na última pesquisa e parece correr por fora.
- Com a questão da segurança, o apoio da classe média e do (prefeito) Cesar Maia, Denise pode subir mais e teria um teto maior que o de Crivella. Esta eleição parece um mar parado, mas pode ser que algumas ondas surjam no final da campanha - avalia Jairo Nicolau.