Rio de Janeiro, 13 de Novembro de 2024

Mídia israelense faz sabatina com investigador da ONU

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Quarta, 13 de Agosto de 2014 às 08:14, por: CdB
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William Schabas, professor canadense na área do direito internacional penal e direitos humanos, foi nomeado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU para investigar a condução da ofensiva israelense "Margem Protetora"
Israel decidiu que não vai colaborar com as investigações do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre as denúncias de crimes de guerra cometidos durante mais de um mês de ofensiva contra a Faixa de Gaza. Na segunda-feira, a ONU nomeou como chefe da missão o canadense William Schabas, que foi logo sabatinado pela televisão israelense com perguntas sobre a “moral dupla” da organização para, claro, contestar a decisão de investigar Israel. Durante uma sessão assombrada pelas graves e flagrantes violações do direito internacional humanitário pelas forças israelenses nos bombardeios diários à Faixa de Gaza, ainda transcorridos menos de 20 dias da ofensiva, o Conselho de Direitos Humanos da ONU decidiu – com um único voto negativo, o dos Estados Unidos – que enviaria uma nova missão para investigar a condução da ofensiva “Margem Protetora”, lançada em 8 de julho. A decisão causou as reações virulentas usuais do regime israelense. O chanceler Avigdor Lieberman chegou a taxar o órgão da ONU como “conselho dos direitos dos terroristas”, atacando nomeadamente a Venezuela e Cuba, que estão entre os 47 membros do Conselho de Direitos Humanos e, assim como o Brasil e outros representantes latino-americanos, votaram pelo envio da missão de averiguação dos fatos em Gaza com discursos firmes de condenação do massacre dos palestinos. Quando o Conselho de Direitos Humanos enviou outra missão, em 2009, para investigar a condução da ofensiva “Chumbo Fundido” – que durou 22 dias, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, matando cerca de 1.400 pessoas e concluiu que crimes de guerra e “possíveis crimes contra a humanidade” tinham sido cometidos, a reação israelense foi também agressiva e cínica. As autoridades e os especialistas, a mídia e o aparato acadêmico que participa na elaboração das suas narrativas formularam todos os tipos de teses, que passam por racionalizações militares da morte dos palestinos, instrumentalizando até mesmo os princípios do direito internacional para justificá-la e pelas acusações, inclusive, contra seus maiores aliados, os Estados Unidos, que têm fichas igualmente sujas nunca averiguadas. Uma posição marcante foi a que rechaçava as acusações sobre a “desproporcionalidade” dos ataques israelenses contra Gaza em comparação com os objetivos declarados, de "destruir túneis subterrâneos". Para defensores do regime israelense, a condenação com base no princípio de "proporcionalidade" era “hipócrita”. A reação israelense e a sustentação que ela recebeu principalmente da mídia, assim como da aliança infalível dos Estados Unidos que barra qualquer caminho ou bifurcação testada para a responsabilização dos líderes israelenses fez com que o relatório de 500 páginas assinado pelo juiz Richard Golstone (na foto), sul-africano e judeu, fosse nulificado. Goldstone também foi pessoalmente atacado, inclusive por sua própria comunidade judaica, e acabou recuando, dizendo-se arrependido pelas conclusões. Sabatina com investigador Em entrevista ao Canal 2 da televisão israelense, o professor canadense Schabas já pôde sentir qual será a recepção à sua presença e à sua missão. Schabas teve de se deter em exemplos de relacionamentos e atuações que demonstrariam como ele não é “anti-Israel” e “convidou” as autoridades israelenses a participarem das investigações, principalmente para legitimá-las e verificarem como são conduzidas imparcialmente. “É do interesse de Israel, participar.” Ao mesmo tempo, respondeu às provocações do entrevistador concordando com a perspectiva de que a própria ONU não é imparcial e fica dependente das dinâmicas políticas no seu sistema – como se explicasse porque Israel será novamente investigado, enquanto os graves crimes dos Estados Unidos, por exemplo, continuam embaixo do tapete. Entretanto, nesta quarta-feira, a Controladoria do Estado de Israel já emitiu uma comunicação à imprensa afirmando que não participará da missão da ONU e conduzirá uma investigação própria. “Diante das afirmações de que Israel alegadamente teria violado as regras do direito internacional e não está monitorando as ações (do Exército), como exigido pelo direito internacional, o juiz aposentado da Controladoria do Estado Yosef Shapira decidiu lançar uma averiguação dos processos de tomada de decisão a nível militar e político durante a operação Margem Protetora, e dos mecanismos de inspeção e investigação do (Exército) e do governo.” Ainda assim, o chanceler Lieberman voltou a dizer, no mesmo dia, que Israel precisa derrotar o Hamasmesmo que isso custe outra conflagração, de acordo com o jornal israelense Haaretz. “Se o atual cessar-fogo está caminhando para o colapso, Israel precisa tomar a iniciativa, mesmo que isso signifique uma grande escalada [da ofensiva]. Acabar com a história no menor tempo possível.” O número de palestinos mortos desde 8 de julho em Gaza está próximo de duas mil pessoas. De 70% a 80% são civis e mais de 400 são crianças, que morreram em meio à devastação da infraestrutura civil essencial, abrigos humanitários, cerca de 10 mil lares, centenas de igrejas, mesquitas, hospitais, clínicas e diversas outras estruturas que não se enquadram na classificação de “alvos militares legítimos” do direito internacional humanitário, em um estreito território densamente povoado e completamente cercado há quase oito anos. O fim do bloqueio é uma das principais reivindicações do Hamas, que afirma a urgência da mudança da situação e o fim da repetição cíclica do massacre dos palestinos, assim como do grave empobrecimento imposto pelo cerco israelense e pela devastação provocada pelas ofensivas. Apenas nos últimos cinco anos, foram três “operações militares” que mataram, no total, aproximadamente 3,5 mil pessoas.
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