Há cerca de três anos, escrevi um artigo sobre a pseudo-renovação das tendências cinematográficas dos blockbusters americanos. Calcado no raciocínio do filósofo francês Guy Debord, em "Hollywood, seus produtos e subprodutos" argumentei sobre a repetição esquemática de temas em filmes americanos de tempos em tempos. Essa constante retomada cíclica pode ser exemplificada com a recente série de filmes "American Pie". Por que? Nos anos 80 tivemos um fenômeno que pode ser diretamente relacionado com a série acima: "Porky's". Os filmes que compõe essa série falavam sobre jovens secundaristas, ou universitários, e suas armações sexuais. Marcou época. Aqui no Brasil essas obras são reprisadas anualmente na TV aberta e tem uma boa quantidade de pessoas que as cultuam. Cada geração tem o seu respectivo "Porky's", conclui-se.
Vendo "American Pie - O Casamento", constato que pouca coisa (ou rigorosamente nada) mudou. Esse já é a terceira obra da franquia de tortas. E haja tortas. O nome da fita inaugural, apenas "American Pie", vinha de uma piada que se esgotou logo naquele filme e fazia sentido. Já ficara claro até então que aquele era o novo representante oficial do "Porky's", e que haveria novas tortas. Era pelo menos o que a imprensa e o público comentava.
Alguns elementos que garantiram o sucesso da primeira fita foram forçados ao extremo nas seqüências para que continuassem a gerar boas gags. Exatamente como aconteceu com os antecessores. Eugene Levy é um exemplo. Ator canadense, 30 anos de carreira e mais de 50 filmes no currículo, foi revelado ao mundo com "American Pie". Ironicamente seu personagem nem tem nome. Uma consulta no IMDB (International Movie Database), site que reúne ficha técnica de filmes, revela que seu personagem é creditado na trilogia como "Jim's Dad" (o pai de Jim, personagem principal interpretado por Jason Biggs). Em "American Pie - O Casamento" esse personagem fica desgastado, e quando funciona, se deve somente ao talento de Levy e suas expressões faciais.
A ausência de um nome para o pai de Jim só leva a entender que essa série é totalmente voltada para um universo jovem (a avó também não tem nome, assim como a mãe de um outro personagem, que só é chamada através de sua "ocupação", "Stifler's Mom"). Outro momento sugere ainda mais, que é uma série voltada para o universo jovem americano, do norte. Ao iniciar a projeção, logo após vermos o título do filme, pulamos para um plano de poucos segundos que mostra, isoladamente, uma bandeira dos Estados Unidos. Em seguida, imagens insignificantes de umas poucas crianças se divertindo em uma espécie de parque preenchem a tela. E daí em diante se sucedem as mais diversas piadas. Escatológicas em sua grande maioria. Uma delas lembra o desfecho do cult "Pink Flamingos", de John Waters, só que sem as excentricidades originais do travesti Divine.
Resta saber porque um filme como esse acaba ficando para a posteridade como uma genuína peça nostálgica. Isso é afirmado baseado nos sucesso dos dois filmes anteriores da série. Se fosse um filme brasileiro, teria o mesmo efeito? Ao assistir hoje as pornochanchad