Ninguém nega sua genialidade, mas muitos o consideram uma ameaça ao futuro da humanidade. Craig Venter, o polêmico "feiticeiro" da engenharia genética, passou pelo Brasil. Diante de uma platéia que foi capaz de pagar R$ 2,7 mil por um ingresso para assistir a sua palestra na noite de 7 de novembro, o biólogo norte-americano foi a principal estrela do seminário ExpoManagement, em São Paulo. Celebridade nos Estados Unidos, Venter, para quem não sabe, é fundador da Celera Genomics, empresa que em 2001, quando ele a presidia, conseguiu decifrar pela primeira vez na história o sequenciamento do genoma humano. Dez anos antes, quando trabalhava no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, o biólogo conquistara pela primeira vez as manchetes dos jornais ao depositar pedidos de patentes privadas sobre milhares de genes do cérebro humano que havia seqüenciado, numa atitude condenada pela comunidade científica.
Em novembro de 2003, já fora da Celera e com status de celebridade em seu país, Craig Venter surpreendeu a todos com sua maior proeza: criou uma nova forma de vida. Mais precisamente, o cientista conseguiu dar vida a um vírus bacteriófago artificial, montado em laboratório a partir de 5.836 pares de bases de DNA sintético. Desde então, Venter vem sendo aclamado por seus admiradores como "pai da genômica". Na opinião de inúmeras organizações de defesa do meio ambiente, da saúde humana e do direito dos consumidores, no entanto, ele transformou-se numa espécie de vilão planetário. Essa visão começou a se formar alguns meses antes da criação do vírus artificial, quando Venter fundou seu Instituto para Alternativas em Energia Biológica (Ibea, na sigla em inglês) e anunciou que estava iniciando uma "expedição ao redor do mundo" para coletar amostras de microorganismos nos mares costeiros de países dos cinco continentes.
Com o intuito oficialmente declarado de procurar no "genoma dos mares" microorganismos e bactérias detentores de genes fotorreceptores, capazes de converter a luz solar em energia limpa no futuro, a expedição de Craig Venter é apontada pelas ONGs como uma ameaça à soberania dos países visitados e classificada por alguns como a maior operação de biopirataria já realizada. A bordo do iate de noventa pés Sorcerer II (feiticeiro, em inglês), a equipe de Venter deixou a América do Norte em agosto de 2003 e desde então já coletou microorganismos no Mar de Sargaços e nas costas de México, Costa Rica, Bermudas, Panamá, Chile e Equador, onde fez polêmica visita ao Arquipélago de Galápagos. De lá, a expedição rumou para a Polinésia Francesa, onde teve sua entrada barrada, e encontra-se atualmente estacionada na Austrália. No próximo ano e meio, no que depender do desejo de Venter, o Sorcerer II irá fazer coletas no Oceano Índico e em toda a costa da África. Em seguida, a expedição estuda a possibilidade de estacionar na foz do Rio Amazonas, para desespero dos ambientalistas brasileiros.
Dinheiro para Craig Venter não tem faltado. Desde que o Sorcerer II deixou Halifax (Canadá) dando início à expedição, o Departamento de Energia do governo dos EUA já investiu US$ 12 milhões na aventura, através de seu programa Genomes to Life (Genomas para a Vida). Além disso, Venter fundou em junho de 2005 uma nova empresa, a Synthetic Genomics Inc., que conseguiu reunir mais de US$ 30 milhões em investimentos privados "interessados em criar vida artificial". O principal investidor privado das pesquisas de Venter é o milionário industrial mexicano Alfonso Romo Garza, que atua no ramo de sementes e teria aportado sozinho US$ 15 milhões à empresa. O presidente da Synthetic Genomics é Juan Enriquez Cabot, antigo pesquisador de Harvard. As amostras de microorganismos coletadas pela expedição são enviadas a um centro de pesquisas em Maryland (EUA), onde são decodificadas por um programa de computador e têm seu sequenciamento genético registrado. As informações são repassadas aos investidores privados e também ao g