Data que marca independência da União Soviética coincide com seis meses de guerra. Autoridades alertam para risco de bombardeios russos e proíbem grandes reuniões na capital. "Lutaremos até o fim", promete Zelensky.
Por Redação, com DW - de Kiev
Moradores de Kiev acordaram ao som de sirenes de alerta nesta quarta-feira, data que marca o Dia da Independência da Ucrânia e seis meses da guerra iniciada pela Rússia no país. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu que a população permanecesse vigilante e prometeu que seu país lutará contra a invasão russa "até o fim".
– Provocações e ataques brutais da Rússia são uma possibilidade. Por favor, sigam estritamente as regras de segurança. Por favor, observem o toque de recolher. Prestem atenção às sirenes. Prestem atenção aos anúncios oficiais. E lembrem-se: precisamos todos alcançar a vitória juntos – afirmou Zelensky em pronunciamento em vídeo.
Autoridades da capital ucraniana proibiram grandes reuniões em Kiev até quinta-feira, em meio a temores de pesados ataques com mísseis russos durante o feriado nacional, que celebra a declaração de independência ucraniana da União Soviética, em 1991. Um toque de recolher foi imposto na linha de frente em Kharkiv, situada no leste da Ucrânia e que tem resistido a meses de bombardeios.
"Os invasores russos continuam a executar ataques aéreos e com mísseis contra alvos civis no território da Ucrânia. Não ignorem sinais de defesa civil", disse o Estado-maior do Exército ucraniano em comunicado emitido nesta quarta.
Um pequeno número de pessoas se reuniu na praça central de Kiev pela manhã, onde tanques russos capturados foram colocados em exibição no fim de semana e onde o hino nacional ucraniano é tocado diariamente às 7h.
"Não consigo dormir à noite por causa do que vejo e escuto sobre o que está sendo feito na Ucrânia", disse à agência de notícia Associated Press (AP) uma aposentada que se identificou apenas como Tetyana. "Isto não é uma guerra. É a destruição do povo ucraniano."
Temores de mais ataques
Um atentado a bomba nos arredores de Moscou que matou Daria Dugina, filha do ideólogo de direita russo Alexander Dugin, no último sábado aumentou os temores de que a Rússia intensifique os ataques à Ucrânia nesta semana.
Autoridades russas culparam Kiev pela morte de Dugina, que era nacionalista e comentarista de TV. Suspeita-se que seu pai, apontado como guru de Putin, fosse o verdadeiro alvo do atentado. O governo ucraniano negou qualquer envolvimento no incidente.
Nesta segunda-feira, o Departamento de Estado dos EUA emitiu um alerta de segurança, apontando que a Rússia estava intensificando os esforços para lançar ataques contra a infraestrutura civil da Ucrânia e instalações governamentais nos próximos dias, podendo inclusive aproveitar o feriado nacional ucraniano para isso.
"A situação de segurança em toda a Ucrânia é altamente volátil, e as condições podem se deteriorar sem aviso prévio", disse o alerta.
A Embaixada dos EUA em Kiev instou os cidadãos americanos que ainda estão na Ucrânia, se possível, a deixarem o país imediatamente pelas vias terrestres disponíveis.
"Vamos lutar até o fim, sem concessões"
Há exatos seis meses, em 24 de fevereiro, o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou que dezenas de milhares de soldados invadissem a Ucrânia. A guerra matou milhares de civis, forçou mais de um terço da população de 41 milhões ucranianos a deixar suas casas, deixou cidades em ruínas e abalou a economia global. Não há perspectivas imediatas de negociações de paz entre ambos os lados.
Em seu pronunciamento por ocasião do Dia da Independência, Zelensky afirmou que a Ucrânia não fará concessões à Rússia.
– Há seis meses, a Rússia declarou guerra contra nós. Em 24 de fevereiro nos disseram: 'Vocês não têm nenhuma chance'. Mas neste 24 de agosto, dizemos: 'Feliz Dia da Independência, Ucrânia!' – declarou Zelensky. "Não nos importa que exército vocês têm, só nos importa o nosso país. Vamos lutar por ele até o fim", prometeu.
– Temos nos mantido firmes há seis meses. É difícil, mas cerramos nossos punhos e lutamos pelo nosso destino – prosseguiu. "Cada novo dia é um motivo para não desistir. Após uma jornada tão longa, não temos o direito de não seguir adiante até o fim."
Em relação à Rússia, Zelenski afirmou: "Não vamos buscar um acordo com terroristas. Para nós, a Ucrânia é toda a Ucrânia. Todas as 25 regiões, sem nenhuma concessão".
Numa cúpula virtual sobre a Crimeia nesta terça, Zelensky disse a representantes de cerca de 60 países e organizações internacionais que a Ucrânia expulsaria as forças russas da península usando qualquer meio necessário e sem consultar outros países de antemão.
Além da Crimeia, que a Rússia anexou em 2014, forças russas expandiram seu controle para áreas no sul da Ucrânia, incluindo as costas do Mar Negro e do Mar de Azov e partes da região de Donbass, localizada no leste e que compreende as províncias de Donetsk e Lugansk.
As Forças Armadas da Ucrânia afirmaram que quase 9 mil de seu militares foram mortos na guerra. A Rússia não divulgou suas baixas, mas a inteligência dos EUA estima que 15 mil tenham sido mortos no conflito, que Moscou chama de "operação militar especial" para "desnazificar" a Ucrânia.