Temer articula com juízes aliados a suspensão do julgamento que poderia cassar a chapa Dilma-Temer, no TSE.
Por Redação - de Brasília
Diante da derrota iminente no julgamento que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) inicia no próximo dia 6 de Junho, o presidente de facto, Michel Temer, articula com juízes que indicou para a Corte de Justiça para que um deles peça vistas ao processo e suspenda, assim, o desenlace que o retiraria do Palácio do Planalto. Temer conseguiria, assim, permanecer no cargo por tempo indeterminado e prolongar a agonia dos brasileiros, que vivem a pior crise econômica da História. O magistrado, autor do pedido, fica com o processo por tempo indeterminado.
Assim, fica mais distante a solução jurídica para o impasse, gerado após o mandatário imposto após o golpe de Estado, há pouco mais de um ano, recusar-se a renunciar. Temer também conta com o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de descartar os pedidos de impedimento. Ou adiar esta decisão ao máximo possível, como já revelou a interlocutores, conforme apurou a reportagem do Correio do Brasil.
Restaria, então, uma saída mais dramática. Desta vez, pela via política. Caciques tucanos, principais esteios do governo instalado com a derrubada da presidenta Dilma Rousseff, discutem uma data-limite para a crise que se arrasta, desde as delações de Joesley Batista. O executivo do Grupo JBS gravou uma conversa com Temer, nos porões do Palácio do Jaburu. Durante o diálogo, Temer teria cometido uma série de crimes. Sendo assim, Temer teria pouco mais do que uma quinzena à frente do governo.
Renúncia
Caso perceba que o alongamento da crise será ainda mais desgastante, Temer tem à sua disposição a renúncia. É o que teria lhe sugerido o jornalista João Roberto Marinho, das Organizações Globo, em conversa com Wellington Moreira Franco, secretário-geral de Temer. O encontro reservado teria ocorrido no escritório do multibilionário. A reunião, segundo notícia vazada para um dos diários conservadores paulistanos, teria ocorrido na segunda-feira.
Apesar do “tom ameno” da conversa, segundo nota no jornal, Moreira Franco percebeu que as emissoras do grupo, entre as mais influentes do país, seguiria com a divulgação dos fatos que incriminam o mandatário peemedebista. O posicionamento da empresa, teria-lhe dito o Marinho, “é pela renúncia de Temer”, conforme expresso em editorial. Moreira saiu dali, no Centro do Rio, diretamente para Brasília. Em conversa com o chefe, o teria aconselhado a pensar melhor sobre a estratégia de alongar a crise.
Sem o apoio do PSDB, no Congresso, o governo atual estaria atolado em um poço de lama, com escândalos até o pescoço. Sem o menor apoio popular e diante do seu destino no Congresso, caso os tucanos desembarquem, de vez, da nau que segue paralisada, a revista norte-americana Time ainda traz o peemedebista como um dos cinco presidentes mais impopulares do mundo.
‘Bem na fita’
A Time chegou a ironizar a situação ao afirmar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está "bem na fita" ao figurar ao lado de líderes mundiais impopulares como Temer, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, do primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, e do primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak.
Apesar dos escândalos de seu governo, Trump mantém uma popularidade de 40% junto ao eleitorado dos EUA.
"Seguir uma presidente que sofreu impeachment deveria ser fácil; o nível de exigência estava baixo. Mas o presidente brasileiro, cuja aprovação está em um dígito, descobriu que suceder Dilma Rousseff não foi um passeio no parque", ironiza a Time ao falar da impopularidade de Temer, que é rejeitado por 95% dos brasileiros.
"O político veterano agora se agarra ao cargo depois que gravações mostraram ele aparentemente negociando pagamento de suborno para silenciar um colega político corrupto. Ele pode em breve ser o segundo presidente brasileiro consecutivo que sofre um impeachment, graças a ligações com o escândalo da Lava Jato", destaca a matéria.
Outro inquérito
Não bastasse a investigação à qual responde no Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria-Geral da República (PGR) estaria pronta a pedir a abertura de um novo inquérito contra Temer. Dessa vez, com base em diálogo do deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Assessor de extrema confiança de Temer, Loures é aquele interlocutor de um dos delatores do Grupo JBS que saiu correndo com uma mala de dinheiro, na capital paulista.
Os procuradores suspeitam de tráfico de influência para beneficiar a Rodrimar, empresa que opera no porto de Santos. A companhia foi alvo de buscas da Polícia Federal, na semana passada. A PGR acredita ter reunido indícios suficientes para investigar Loures, após examinar os papéis apreendidos na sede da empresa. Com base no depoimento do deputado afastado, deverão decidir se é o caso de incluir o presidente de facto no inquérito.
Temer foi gravado quando dava informações ao aliado sobre um decreto que ele assinaria seis dias depois. A medida beneficiaria concessionárias de portos, que tiveram suas concessões renovadas por 35 anos, sem licitação. Após o diálogo, Loures procurou um interessado no decreto. No caso, o empresário Ricardo Conrado Mesquita, diretor da Rodrimar. O executivo festejou a notícia e disse que o deputado afastado seria "o pai da criança".
Grampeado
A conversa interceptada pela PF ocorreu em 4 de maio, quando Loures ligou para o Planalto e foi atendido por Temer. O telefone do deputado afastado estava grampeado com autorização judicial. Temer avisou a Loures que o decreto dos portos seria assinado na quarta-feira seguinte como, de fato, ocorreu. Também contou que as concessões de 35 anos teriam o prazo dobrado, chegando a 70 anos de duração.
— Aquela coisa dos 70 anos lá para todo mundo parece que está acertando aquilo lá — disse Temer.
Logo após falar com o mandatário, Loures ligou para o diretor da Rodrimar e repassou as informações. O executivo comemorou a notícia:
— É isso aí, você é o pai da criança, entendeu?
Loures seguiu:
— A ideia é que se o governo for tomar uma decisão, nessa ou naquela direção... Tinha que ser valorizado. Valorizado, não é? — sugeriu o executivo.
Propinas
A Rodrimar está citada em inquérito sobre Temer no STF. Ele é suspeito de participar de um esquema de cobrança de propina de concessionárias do porto de Santos.
Uma planilha entregue à PF atribuía o pagamento de R$ 1,28 milhão em propinas, sendo metade para uma pessoa identificada como "MT". A polícia entendeu que as iniciais se referiam a Temer. O ministro Marco Aurélio Mello, há seis anos, determinou que o então vice-presidente fosse excluído do inquérito. Ele atendeu a pedido da Procuradoria-Geral da República, que disse não ter encontrado provas suficientes contra o então vice-presidente da República.
A defesa do Loures, procurada por jornalistas, preferiu não comentar o caso. Temer, por sua vez, negou por intermédio de sua assessoria, que tenha cometido algum delito. Ele afirmou que o decreto dos portos foi debatido em grupo de trabalho.
"Os prazos e terminais beneficiados foram debatidos nas várias reuniões realizadas pelo grupo. As reuniões eram públicas e as dezenas de participantes sabiam do conteúdo. Portanto, as informações eram públicas", alega.
Indecisão
Para agravar, ainda mais, o quadro de dificuldades políticas de Temer, ele tem tomado decisões erráticas acerca de temas delicados.
— Beira à insensatez, beira à irresponsabilidade — disse Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado. Ele referia-se à convocação do Exército, em decreto assinado na noite passada.
Nesta manhã, voltou atrás. E Calheiros não perdoou:
— Um governo com essa rejeição não pode transferir o seu problema para o Congresso.
Calheiros acrescentou ser impossível “enfiar goela abaixo do trabalhador” as reformas trabalhista e da Previdência.
— O PMDB não é um departamento do Executivo. Se esse governo não se sustenta, não serão as Forças Armadas que vão sustentar esse governo — afirmou Calheiros.