Acabou a esperança

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Publicado Domingo, 01 de Abril de 2018 às 00:09, por: CdB

Nunca vivi um período tão chato, falso, perigoso, sem graça como o que estamos vivendo. Quando saio com os amigos, às vezes que rimos e até gargalhamos, é sempre sobre acontecimentos de um passado longínquo, onde havia esperança e se acreditava no próximo.

Por Maria Lúcia Dahl, do Rio de Janeiro:​

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Acabou a graça

O mundo atual
“Este mundo é inconcluso
Alem , há continuação.
Invisivel como a música
Evidente como o som”
Emily Dickinson

O que aconteceu com o mundo? Será que sempre foi assim e só agora ele (o mundo) resolveu se revelar como realmente era, um território inteiro governado por mentiras de todos os tipos com o intuito de esconder o único ideal verdadeiro seguido por todos os políticos da Terra, que hoje, finalmente, foi explicitamente declarado em todas as classes, tipos, nacionalidade e objetivos ? Por que , finalmente, ele resolveu revelar o seu verdadeiro nome, em vez de usar o de empresas, companhias, profissões, e declarar o objetivo da vida de toda a humanidade com o seu nome verdadeiro, que se chama dinheiro?

Existe ainda algum candidato às eleições no mundo, que possua carisma, de qualquer partido, verdadeiro, que nos contamine com um mínimo de verdade transposta pelo ser?

Quem ainda possui carisma são os artistas que representam os seus papéis.

Não consigo mais achar graça no mundo, fora a natureza, Onde é que podemos conversar sobre partidos, objetivos, mudanças?

Nunca vivi um período tão chato, falso, perigoso, sem graça como o que estamos vivendo. Quando saio com os amigos, às vezes que rimos e até gargalhamos, é sempre sobre acontecimentos de um passado longínquo, onde havia esperança e se acreditava no próximo.

Hoje o próximo é o da fila do banco que leva horas esperando pra pagar contas esperadas e inesperadas, que chegam de outros bancos cobrando quantias assustadoras.

Não sei como continuar vivendo assim num mundo sem heróis.

O que faremos agora que acabou a esperança? 

Será o fim do mundo?

Ontem saí de casa e passei por uma moça de uns vinte e poucos anos, completamente nua e solitária, andando pela rua Voluntários, em Botafogo.

Algumas pessoas olhavam pra ela o que a fazia continuar andando sem falar nada com ninguém. E assim foi , tranquilamente, descalça e sem nenhum objeto que dependesse dela ou ela dele.

Então, resolvi voltar pra casa pensando: será que não existe mais moda, entre roupas e sapatos? Será que assim como tudo, a moda acabou e nos transformamos em animais que só seguem a sua própria natureza?

Tá muito esquisito tudo. Vou pra casa, ficar quieta, mas não vou ligar a televisão, pra só ver notícias aterrorizantes que confirmem este final de mundo. 

Prefiro dormir e sonhar com um mundo novo que nos surpreenda depois desse., já que, como disse Dickinson, 
“ Esse mundo é inconcluso
Alem, há continuação. Invisivel como a música, evidente como o som.”

Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino de Engenho, Gente Fina é outra Coisa – 29 peças teatrais destacando-se- Se Correr o Bicho pega se ficar o bicho come – Trair e coçar é só começar- O Avarento. Na televisão trabalhou na Rede Globo em cerca de 29 novelas entre as quais – Dancing Days – Anos Dourados – Gabriela e recentemente em – Aquele Beijo. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil e algum tempo no Estado de São Paulo. Escreveu 5 livros sendo 2 de crônicas – O Quebra Cabeça e a Bailarina Agradece-, um romance, Alem da arrebentação, a biografia de Antonio Bivar e a sua autobiografia,- Quem não ouve o seu papai um dia balança e cai. Como redatora escreveu para o Chico Anisio Show.Como roteirista fez recentemente o filme – Vendo ou Alugo – vencedor de mais de 20 premios em festivais no Brasil.

Direto da Redação, editado pelo jornalista Rui Martins.

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