Agências de risco avaliam derrubar a nota brasileira

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Publicado Terça, 15 de Agosto de 2017 às 13:20, por: CdB

A nota de risco do Brasil chega ao grau especulativo pelas três maiores agências de rating: S&P, Moody's e Fitch. A perspectiva é negativa, ou seja, há riscos de novos rebaixamentos.

 

Por Redação - de Brasília e São Paulo

 

A indecisão no anúncio do deficit orçamentário deste ano e em 2018 ampliou, nesta terça-feira, o risco de um novo corte da nota de crédito do Brasil, afirmaram economistas em entrevistas concedidas ao longo desta manhã.

A nota de risco do Brasil chega ao grau especulativo pelas três maiores agências de rating: S&P, Moody's e Fitch. A perspectiva é negativa, ou seja, há riscos de novos rebaixamentos. A primeira sinalização deve ser dada pela S&P, que em maio colocou a nota do país em "credit watch’. Isso significa que há pelo menos 50% de chance de haver um rebaixamento do rating, dentro do prazo de 90 dias –que termina na próxima semana.

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A Moody's classifica o risco de dívidas soberanas Segundo a Moody's, o Brasil continua enfrentando desafios significativos do ponto de vista do crédito

Um novo corte na S&P levaria o rating a três níveis abaixo do grau de investimento (classificação que indica que é seguro investir no país, perdida em 2015). Muitos fundos estrangeiros só investem em papéis de um determinado país caso ele tenha o grau de investimento. Em 2008, quando o país recebeu o selo de bom pagador, a Bolsa de São Paulo atingiu seu recorde histórico.

Tamanho do déficit

Nesta manhã, o chefe da equipe econômica, Henrique Meirelles, afirmou que as novas metas de déficit primário de 2017 e 2018 deverão ser anunciadas nas próximas horas, e que elas não deverão subir para algo entre R$ 165 bilhões e R$ 170 bilhões. Logo em seguida, ele voltou atrás e falou em R$ 165 bilhões.

Meirelles, que participou nesta terça-feira de encontro com parlamentares da base aliada na residência do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ainda que houve o esforço de convencimento sobre a importância neste momento da aprovação de projetos da criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), do Refis e da Reoneração da folha de pagamentos.

— Estamos discutindo aumento de receitas extraordinárias, e não aumento de despesas — afirmou ele a jornalistas.

Novo rebaixamento

Essas idas e vinda da autoridade econômica do país levaram representantes da S&P, que estiveram no Brasil nas últimas semanas, a acompanhar mais de perto a situação fiscal. Para Tony Volpon, economista-chefe do banco UBS no Brasil e ex-diretor do BC, a agência deve tomar uma decisão negativa.

— Só deve estar esperando o anúncio (da revisão). Não o número em si, mas a explicação de por que o governo não atingirá a meta e o que será feito para atingir a nova — comentou.

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Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro, afirma que a probabilidade de novo rebaixamento é elevada.

— A decisão sobre a meta será muito importante nessa avaliação. Não apenas o número, mas o que está por trás dele, ou seja, se a revisão ocorre por uma frustração de receitas ou se é para acomodar mais despesas — acrescentou, em conversa com jornalistas.

Derrota

Ao assumir, Henrique Meirelles (Fazenda) anunciou que o deficit previsto para 2016 estava subestimado e elevou a projeção para R$ 170 bilhões. Fechou o ano com R$ 159 bilhões. A mensagem era que o rombo seria reduzido gradativamente até 2020.

Agora, deve elevar a meta deste ano dos atuais R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões. E, a de 2018, de R$ 129 bilhões para R$ 159 bilhões.

Kawall diz que o cenário será ainda mais negativo se "lido" como uma derrota da área econômica ante a pressão política de empurrar o deficit para mais de R$ 159 bilhões.

Agências de risco

O equilíbrio fiscal passa por corte de despesas de modo permanente, via reforma da Previdência, por exemplo. Para Rodrigo Borges, diretor da gestora Franklin Templeton, as agências deverão aguardar sinais mais firmes sobre a capacidade de o governo aprovar mudanças estruturais.

— As agências vão esperar para ter um ambiente claro. Não vão tomar nenhuma atitude no meio da confusão — disse.

Ainda assim, diz, há um prazo claro para a tolerância das agências.

— Se o governo não aprovar a reforma neste ano, no ano que vem fica mais difícil. O deadline não chegou, mas vai chegar — concluiu.

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