Agentes econômicos já ‘precificaram’ Rodrigo Maia, que monta ministério

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Publicado Sexta, 07 de Julho de 2017 às 12:20, por: CdB

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, nesta manhã, já falava com desenvoltura em fazer reformas e, nos bastidores, em montar o próprio ministério.

 

Por Redação - de Brasília

 

A substituição de um presidente de facto por outro já teria sido calculada, ou ‘precificada’, no jargão do mercado financeiro, por aqueles principais agentes econômicos. Segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil, nesta sexta-feira, junto ao mercado financeiro, a maior parte dos investidores já aceita uma substituição de Temer no cargo.

— Caso Temer permaneça, o risco aumenta quanto à governabilidade. A base aliada da qual ele se orgulhava, hoje em dia não existe mais. Por mais que tente passar um ar de normalidade, até as garças do Palácio da Alvorada já sabem que ele corre o risco de ser preso, dentro de pouco tempo — disse um analista econômico ao CdB, em condição de anonimato.

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Maia tem articulado, nos bastidores, a composição de um ministério para substituir o atual

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, nesta manhã, já falava com desenvoltura em fazer reformas e, nos bastidores, em montar o próprio ministério. Pretende manter a maioria dos atuais assessores, mas demitiria aqueles mais próximos a Temer.

Rede social

Sucessor imediato no comando do país, em caso de afastamento do peemedebista, Maia disse, em mensagens no Twitter, ser necessário ter "muita tranquilidade e prudência" no momento. Frisou, ainda, que se deve avançar na agenda de reformas no país.

"Precisamos ter muita tranquilidade e prudência neste momento. Em vez de potencializar, precisamos ajudar o Brasil a sair da crise", disse o deputado na rede social. Maia acrescentou que tem de ser estabelecido "o mais rápido possível" a agenda da Câmara.

"Não podemos estar satisfeitos apenas com a reforma trabalhista. Temos Previdência, Tributária e mudanças na legislação de segurança pública", afirmou.

Ingovernabilidade

Embora fale o mínimo possível, em pública, sobre a denúncia que tramita na Câmara contra Temer, o presidente da Casa tem se movimentado ativamente nos bastidores. Temer será afastado do cargo, uma vez que a Câmara autorize que o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar a acusação contra ele por crime de corrupção passiva. A maioria dos ministros do STF precisariam, ainda, aceitar a denúncia.

Maia, que segue em agenda oficial na Argentina até este sábado, recebeu um incentivo relevante. Presidente interino do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) disse que o deputado tem todas as condições para promover a estabilidade no país até 2018. E afirmou - sem citar Temer, diretamente -, que o Brasil está chegando próximo à ingovernabilidade.

Caso Temer seja afastado, o presidente da Câmara assume o comando do país por até 180 dias. É o prazo determinado ao Supremo para julgar o peemedebista. Temer retornaria ao comando do país se o STF deixar de cumprir o prazo legal. Uma vez condenado e afastado em definitivo, Maia teria 30 dias para conduzir o processo de uma eleição indireta. Nesse cenário, ele poderia ser candidato para o mandato-tampão, até o final de 2018.

Desembarque

Ainda que a maioria dos aliados negue, em público, cresce a expectativa de desembarque do PSDB e do Democratas (DEM) do governo de Michel Temer, nos próximos dias. O fato é que, caso ocorra a debandada, o peemedebista perderia a governabilidade.

Entre os baianos da base do governo, o tom ainda é de cautela. A exceção à regra, mais uma vez, é o presidente estadual do PSDB, deputado federal João Gualberto. Ele protocolou, na Câmara, o primeiro pedido de impeachment de Temer, logo após a delação do empresário Joesley Batista.

Presidente do Democratas (DEM) na Bahia, o deputado federal José Carlos Aleluia nega que seu partido esteja de saída do governo. Mas deixou a porta entreaberta.

— Somente poderemos discutir qualquer coisa na semana que vem. Mesmo assim, depois do resultado da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, onde está o pedido de investigação contra Temer — disse.

Membro titular da CCJ, o deputado Jutahy Magalhães Jr., do PSDB, não revela seu voto sobre o pedido de investigação:

— Garanto que votarei com minha consciência. Será um voto pessoal — adianta o baiano.

Tucanos fora

Já o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) não faz mais mistério. Em conversa com investidores, na noite passada, disse que, se depender do processo na Câmara, “dentro de 15 dias o país terá um novo presidente”.

Segundo o tucano, a “instabilidade aumentou” com a prisão de Geddel Vieira Lima. O avanço da delação de Eduardo Cunha e a escolha de Sergio Zveiter (PMDB-RJ) como relator da denúncia na CCJ também foram citados. Os fatos mostram que uma ala do PSDB quer se livrar de Michel Temer. Ele afirmou, sem subterfúgios:

— O governo caiu.

Cássio Cunha Lima disse ainda que, se Temer continuar no Planalto, as propostas não passarão. O senador ainda enfatizou que Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, já teria dado sinais de que não mexerá na equipe econômica se assumir o governo.

— Maia deverá apresentar mais estabilidade — acredita.

Cada vez mais evidente, a disposição dos tucanos em abandonar o governo Temer esbarra apenas em um número cada vez mais reduzido de líderes que defende o apoio ao peemedebista.

Críticas ácidas

Para o senador peemedebista Renan Calheiros (AL), no entanto, as articulações para a queda de Michel Temer se intensificam. Não pesam dúvidas. Além de aumentar a acidez das críticas, ele adiantou que buscará votos, na Câmara, para que seja autorizado o processo contra Temer. Renan alega que as movimentações do governo para evitar um revés na Casa Legislativa beiram a obstrução da Justiça.

— O governo restringiu sua articulação com o Congresso a um mero fisiologismo de último grau. Está cada dia pior — critica.

E acrescenta:

— Ele deveria ter a grandeza de antecipar a eleição.

Calheiros, que deixou a liderança do PMDB na semana passada, prossegue:

— Está ficando difícil proteger um governo que parece insustentável. É um ônus muito grande para qualquer um carregar.

Seis por meia-dúzia

Recém-empossada presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) alerta que, substituir Michel Temer por Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Presidência da República, seria "trocar seis por meia dúzia". Antecipando um movimento “#Fora Maia", ela afirmou que o partido não aceitará uma eleição indireta. O atual presidente da Câmara é apontado como um dos favoritos, caso Temer não resista às denúncias de corrupção feitas contra ele na delação da JBS.

— Nós não achamos que o Maia seja a solução para este país. É tão ruim quanto Michel Temer. Trocar seis por meia dúzia, para o Brasil, não vale nada — concluiu.

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