Os mineiros e o ouro já haviam desaparecido, afugentados pelo barulho dos helicópteros, mas homens armados usando roupas camufladas queimaram barracas e geradores
Por Redação, com Reuters – de Amajari, Roraima:
Depois de uma jornada de quase duas horas por uma floresta densa de Roraima, forças especiais do Ibama rompem em uma clareira onde as árvores foram cortadas e uma cratera cheia de lama foi escavada: uma mina de ouro ilegal em terra indígena no coração da Amazônia.
Os mineiros e o ouro já haviam desaparecido, afugentados pelo barulho dos helicópteros, mas homens armados usando roupas camufladas queimaram barracas e geradores. Quando não havia mais nada, seguiram em frente.
A operação de cinco dias na semana passada, coordenada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Fundação Nacional do Índio (Funai), localizou 15 pistas de pouso e destruiu 20 barcas usadas para transportar equipamentos e suprimentos dos estimados 5 mil mineiros ilegais na região vasta e remota.
Com mais de 9,5 milhões de hectares, o território do povo Yanomami tem o dobro do tamanho da Suíça e abriga cerca de 27 mil indígenas.
A terra pertence legalmente aos yanomami desde 1992, mas os mineiros continuam a explorar a área, cortando árvores e contaminando os rios com mercúrio em sua busca ávida por ouro.
O mercúrio vem se tornando um motivo de preocupação crescente. Se no passado os mineiros matavam os índios yanomami com armas ou doenças, quase 20 % de sua população foi dizimada nos anos 1980, hoje a ameaça é o metal líquido tóxico usado para separar o ouro.
Um estudo publicado no mês passado pela Fundação Oswaldo Cruz revelou que, em alguns vilarejos yanomami, 92 % dos moradores sofrem com o envenenamento por mercúrio. O resultado chocou especialistas, que acreditam que o metal está entrando na cadeia alimentar através dos peixes presentes em rios poluídos.
A alta exposição ao mercúrio danifica os sistemas nervoso, digestivo e imunológico, pode prejudicar a visão e a audição e ser fatal.
A operação da semana passada foi considerada um sucesso, mas o líder da ação do Ibama, Roberto Cabral, disse que os mineiros provavelmente irão voltar. “O objetivo é destruir o equipamento deles. Não temos condições de prendê-los, não temos espaço no helicóptero”, disse.
Quando pegos, eles são interrogados para se obter informação e depois soltos. Além dos equipamentos, as autoridades vêm procurando pistas sobre os interesses empresariais ilícitos por trás da prática dos mineiros.
O fato de a região ser tão distante é um desafio constante. E a situação pode piorar, já que a recessão pela qual o Brasil passa levou a um corte de 24 % no orçamento da Funai para 2016, e o Ibama viu seus gastos reduzidos em 30 %.
Para Fiona Watson, do grupo de ativistas Survival International, uma solução de longo prazo dependeria de ter mais pessoas no terreno, punições graves para os infratores e foco naqueles que contratam os mineiros e fornecem os equipamentos.
– Estes mineiros são como formigas. Vivem voltando – disse.