Amedrontado, presidente de facto usa blindado e ouve ‘Fora Temer!’

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Publicado quarta-feira, 7 de setembro de 2016 as 12:32, por: CdB

O desfile foi oficialmente aberto às 9h15 desta quarta-feira. Temer não usou faixa presidencial neste quarta, como manda a tradição e, com medo de protestos, preferiu não usar o Rolls-Royce conversível do Planalto

 

Por Redação – de Brasília

 

Presidente de facto, em sua primeira aparição pública após assumir a condição de comandante-em-chefe das Forças Armadas, Michel Temer foi recebido aos gritos de “Fora Temer!” e “golpista”, na abertura do desfile militar de 7 de Setembro nesta manhã. Os gritos partiram do público nas arquibancadas próximas ao peemedebista. Em uma delas, os convidados foram pré-selecionados pela segurança do Distrito Federal. A manifestação aconteceu quando Temer chegava à tribuna de honra, de onde assistiu às comemorações pelo Dia da Pátria ao lado da mulher, Marcela Temer, e de autoridades como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski.

Temer, ao lado da mulher, foi alvo de vaias e gritos de 'golpista', assim que chegou ao desfile de 7 de Setembro
Temer, ao lado da mulher, foi alvo de vaias e gritos de ‘golpista’, assim que chegou ao desfile de 7 de Setembro

O desfile foi oficialmente aberto por Temer às 9h15 desta quarta-feira. O presidente de facto não usou faixa presidencial neste quarta, como manda a tradição e, com medo de protestos, preferiu não usar o Rolls-Royce conversível do Planalto, usado em ocasiões especiais para chegar ao local, mas sim um carro fechado e blindado.

Logo depois de se acomodar no seu camarote, as vaias e os gritos de “Fora, Temer!” tomaram o início do desfile, fazendo com que o cerimonial do desfile fosse momentaneamente interrompido. A maior parte dos manifestantes estava sentada em uma arquibancada localizada na diagonal da tribuna reservada ao presidente, praticamente na frente de outro espaço onde estão posicionados diplomatas e demais autoridades.

Durante cerca de um minuto, os gritos e as vaias interromperam o protocolo do evento. Um dos manifestantes abriu uma pequena faixa com os dizeres: “Não aceitamos governo ilegítimo”. Em menor número, um grupo de pessoas na mesma arquibancada se opôs ao protesto, levantando pequenas bandeiras do Brasil e dizendo: “A nossa bandeira jamais será vermelha”. Após a execução do Hino Nacional, os protestos continuaram, de forma mais espaçada.

Após o início do desfile, três jovens que participavam da manifestação se retiraram espontaneamente da plateia. A arquibancada onde foram feitos os protestos foi reservada para convidados do Palácio do Planalto. O estudante Lucas Bertho, 20 anos, um dos que deram início ao protesto, disse que mora em São Paulo e estava na arquibancada junto a outros alunos do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo.

Bertho disse que veio cursar uma disciplina em Brasília e foi convidado pela Presidência a participar do desfile junto com os colegas. De acordo com o estudante, o ato começou de forma não planejada e um dos jovens que estava com um pequeno cartaz foi convidado a se retirar da arquibancada. Segundo a Secretaria de Imprensa da Presidência, a distribuição de convites foi feita de acordo com a demanda de funcionários da Presidência, que podiam solicitar um determinado número de entradas.

O estudante afirmou que não é petista nem defende o governo da ex-presidenta Dilma Rousseff, mas alega que Temer chegou ao poder de forma “ilegítima” e defende eleições diretas. A assessoria de imprensa de Temer informou que nenhum dos seguranças está autorizado a retirar os manifestantes ou qualquer pessoa das arquibancadas. A única exceção teria sido a manifestações políticas por meio de cartazes.

‘Fora Temer!’ nas redes

Se o “Fora Temer!” ganhou dimensão a poucos metros do presidente de facto, nas redes sociais a palavra de ordem foi disparada em milhões de posts publicados. O Correio do Brasil selecionou dois deles, representativos do sentimento que perpassa a opinião dos brasileiros contrários ao golpe de Estado, em curso no país

Para o professor universitário e sociólogo Gilson Caroni Filho, “a história do Brasil é a história de arranjos de elites. Da Independência à Proclamação da República, chegando aos dias atuais, os segmentos populares sempre foram excluídos do processo político. A parte que lhes coube neste latifúndio foi a política de extermínio, a ação do braço repressivo do Estado e a ausência de políticas públicas nas comunidades ou nas periferias miseráveis. Os que sobrevivem veem amigos e familiares serem executados, espancados ou estuprados. A classe média ignora. A mídia não mostra. São dizimados como se tudo isso fizesse parte da ordem natural das coisas. E, no entanto, resistem com uma produção simbólica tão rica quanto ignorada. São politizados, mas não peçam que reajam a um Estado de exceção. É o único que conhecem. Não falem da passividade de pessoas que muito têm a nos ensinar sobre estratégias de luta e valorização da vida. Enquanto não forem legitimados como atores políticos, não haverá Independência a ser comemorada, democracia a ser preservada e muito menos República. Os desfiles militares de hoje não passam de teatrinhos de oligarcas e de setores dominantes sem um projeto de soberania nacional. Era isso que eu tinha a dizer neste 7 de setembro”.

Em sua ‘linha do tempo’, em uma rede social, a escritora e midiativista Maria Fernanda Arruda, colunista de Política do CdB “o 7 de Setembro é muito mais do que um grito proferido às margens do Ipiranga. A história do povo brasileiro é a história de uma luta que se renova sempre. A data é símbolo de renovação dessa luta. Bom dia, companheiros e camaradas: façamos do 7 de setembro de hoje a luta pelo restabelecimento da Democracia e do Estado de Direito. As futuras gerações comemoração o grito de hoje, proferido por todas as partes do nosso território”.

Assista ao vídeo do protesto: