Estudo publicado na revista “Nature” afirma que antiviral diminuiu presença do vírus e evitou doença pulmonar em cobaias. Droga é uma das principais esperanças na luta contra a nova doença.
Por Redação, com DW – de Londres
O antiviral remdesivir, produzido pela farmacêutica Gilead, diminuiu a carga viral e preveniu doenças pulmonares em primatas infectados com o coronavírus Sars-Cov-2, de acordo com um estudo publicado na revista científica Nature na terça-feira.

O resultado foi inicialmente relatado como estudo prévio no mês de abril pelos Institutos Nacionais de Saúde (NHI) dos Estados Unidos, antes de receber a validação acadêmica fornecida por um jornal médico.
O remdesivir é o primeiro medicamento a demonstrar alguma eficácia no tratamento contra a covid-19 em testes feitos com humanos. Exames clínicos envolvendo o fármaco vêm sendo acompanhados com atenção em meio à pandemia do novo coronavírus, que já infectou mais de 7,2 milhões de pessoas em todo o mundo e provocou mais de 411 mil mortes.
No estudo publicado nesta terça-feira, 12 macacos rhesus foram infectados com o vírus Sars-Cov-2. Metade recebeu doses do remdesivir ainda na fase inicial da doença. Os primatas que foram medicados não demonstraram sintomas de doença respiratória e tiveram danos reduzidos no pulmão.
Os autores afirmaram ainda que a carga viral nos pulmões dos animais medicados era mais baixa. O resultado apoia o uso do remdesivir para o tratamento da covid-19 o mais cedo possível, para ajudar a prevenir a progressão da infecção para pneumonia nos pacientes.
Em um teste clínico realizado nos Estados Unidos no final de abril, o remdesivir reduziu a duração das internações em hospitais em 31%, o equivalente a quatro dias, em comparação com o placebo.
Na semana passada, a Gilead divulgou dados de seus próprios testes com o medicamento, segundo os quais os pacientes em nível moderado de infecção por covid-19 apresentaram melhoras modestas durante os cinco dias de tratamento.
O remdesivir foi aprovado no Japão no mês passado e vem sendo utilizado nos Estados Unidos, na Índia e na Coreia do Sul para o tratamento de emergência em pacientes em estágios avançados da doença. Algumas nações europeias também avaliam o uso da droga.
Assintomáticos
A Organização Mundial de Saúde (OMS) ressaltou na terça-feira que infectados com o novo coronavírus que não apresentam sintomas da covid-19, os chamados casos assintomáticos, também transmitem o vírus. O esclarecimento foi feito um dia após a líder técnica do programa de emergência da agência, Maria Van Kerkhove, dar uma declaração que causou confusão.
Kerkhove disse na segunda-feira que a transmissão por pacientes assintomáticos parecia ser rara. A declaração causou surpresa e crítica de pesquisadores. A frase também acabou sendo explorada por críticos de medidas de isolamento social, como o presidente Jair Bolsonaro. Uma nova entrevista foi marcada pela OMS na terça-feira para esclarecer a questão.
A epidemiologista Van Kerkhove destacou na terça-feira que sua fala foi “mal entendida” e afirmou que ao usar a expressão “muito raro” se referia a dois ou três estudos de alcance limitado que tratariam do tema e que ainda se sabe muito pouco sobre a transmissão local. Os especialistas da OMS disseram que dois estudos, um da Alemanha e outro dos EUA, teriam indicado que infectados se tornam mais infecciosos quando começam a sentir sintomas da doença.
A especialista ressaltou ainda que infectados que não desenvolvem sintomas da covid-19 também podem transmitir o vírus. “Algumas das estimativas apontam que cerca de 40% das transmissões podem ocorrer devido a casos assintomáticos, mas esses são modelos. Não inclui isso na minha resposta ontem, mas gostaria fazê-lo para deixar isso claro”, acrescentou Kerkhove.
Em relação aos estudos, a epidemiologista disse que essas informações limitadas mostrariam que os pacientes tendem a ter uma carga maior do vírus quando começam a apresentar sintomas da covid-19, se tornando desta maneira mais infecciosos.
Emergências sanitárias
O diretor de emergências sanitárias da OMS, Michael Ryan, acrescentou ainda que nem sempre os primeiros sintomas da doença são percebidos, lembrando que o novo coronavírus é transmitido de maneira muito fácil e destacou a importância de medidas de isolamento social.
A declaração de Kerkhove dada na segunda-feira foi criticada por pesquisadores. O presidente Jair Bolsonaro acabou aproveitando a ocasião para criticar a imprensa e defender o fim de medidas restritivas impostas para conter o avanço da covid-19 no Brasil.
– Esse pânico que foi pregado lá atrás por parte da grande mídia começa talvez a se dissipar levando em conta o que a OMS falou – disse Bolsonaro. “Quem sabe, após essa declaração, poderemos voltar à normalidade que tínhamos no começo deste ano. Essa informação vai mudar, sim, com certeza, a orientação de governadores e prefeitos sobre isolamento e confinamento”, acrescentou, antes que a OMS esclarecesse a questão.