Uma notícia na imprensa brasileira é a de que pode retomar em nosso país o debate sobre um assunto que nossos jornais vinham esquecendo: o aquecimento global.
O debate que existe na imprensa mundial é, na verdade, um pouco esquizofrênico, pois em algjuns lugares assumiu caráter nitidamente ideológico: os conversadores americanos, por exemplo, adotaram o ceticismo em relação ao aquecimento global com a mesma paixão com que negam a Evolução das Espécies, negam existir uma brecha cada vez maior entre a renda do 1% contra a dos 99%, combatem o Plano de Saúde do Presidente Obama (Obamacare), colocam-se contra a distribuição de pílulas anti-concepcionais e negam às mulheres o direito de aborto.
É claro que encontram vozes que se identificam com eles no Brasil, entre o número reduzidíssimo de climatologistas que, muitas vezes por serem pagos por interesses econômicos, negam a existência de aquecimento global ou garantem que ele não é devido à crescente emissão de gases como o dióxido de carbono (CO2).
Acho porém bem mais prudente acreditarmos em instituições como a NASA, (a Agência Espacial Americana), a NOAA (Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera) e o painel de cientistas internacionais da ONU (IPCC), que reflete a opinião de 98% de climatologistas no mundo.
Segundo a NOAA, a temperatura média global de junho de 2014 foi a mais alta desde que começaram os registros, em 1880. Estamos falando em dados colhidos ao longo de um século e meio.
Ainda segundo a NOAA, já temos 38 meses de junho consecutivos e outros 352 meses em que a temperatura global ficou acima da média do século 20 (um período menor de tempo).
A média global de temperatura na superfície terrestre e oceânica da Terra em junho de 2014 foi de 16,22 centígrados, enquanto a mesma média, durante o século XX, foi de 15,5 centígrados.
Nove dos dez meses mais quentes do mês de junho ocorreram no século XXI, incluindo cada um dos últimos cinco anos.
É importante notar que estamos falando em média, pois em algumas pequenas regiões, devido à alteração no trajeto do “jet-stream” (os ventos de grande altitude, que fazem mover as massas atmosféricas de alta pressão e baixa pressão) as temperaturas foram mais baixas. É o que ocorreu por exemplo no nordeste dos Estados Unidos, onde moro.
É preciso porém ver o problema em seu âmbito global.
O IPCC reúne os mais respeitados climatologistas do mundo a cada cinco ou sete anos e eles elaboram um relatório baseado em milhões de dados colhidos ao redor da Terra.
Por isto, é risível quando a gente lê nos jornais argumentos como os de alguns “céticos” sustentando que o CO2 é um gás essencial ao planeta, porque é absorvido pelas plantas, através da fotossíntese, e portanto as faz crescer.
É a tal história da diferença entre o remédio e o veneno: está na dose. Ou, como se diz em inglês, “too much of a good thing is a bad thing”.
O planeta encaminha-se rapidamente para ter o dobro de concentração de CO2 na atmosfera, em relação ao que tinha antes do início da Revolução Industrial, que levou à atual enorme queima de combustíveis fósseis.
Como o CO2 comprovadamente tem o “efeito estufa” (isto é, permite que os raios solares atinjam a superfície terrestre mas aprisiona a radiação da Terra de volta ao espaço), ninguém precisa ser um gênio para compreender a matemática.
Mas é difícil você convencer os céticos de que estão errados, quando eles ganham dinheiro para estar errados.
José Inácio Werneck, jornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.
Direto da Redação é editado pelo jornalista Rui Martins.