Argentina monta esquema repressivo para o panelaço de hoje

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Publicado Sexta, 25 de Janeiro de 2002 às 16:17, por: CdB

Faltando poucas horas para o início do primeiro panelaço organizado contra o corralito financeiro (congelamento parcial dos depósitos), fome, desemprego e corrupção, a polícia começou, sob um calor de quase 32 graus, a erguer barreiras de aço para proteger edifícios públicos em Buenos Aires. As imediações da Casa Rosada, na Praça de Maio, o Congresso Nacional, e a Corte Suprema, entre outros, estão sendo totalmente cercados. O trânsito ainda não foi interrompido. Na Avenida de Maio, uma das mais parecidas com avenidas de Madri e que liga ainda a sede do governo e a Câmara de Deputados e o Senado, as agências bancárias estão com tapumes, algumas por prevenção, outras porque os vidros quebrados ainda não foram repostos desde os protestos do final do ano passado. O clima ainda é de tranqüilidade na cidade e em todo o centro financeiro. Mas o governo informou que o policiamento, com participação da Polícia Federal, Guarda Nacional e Prefeitura Naval, será reforçado em todo o país. Pontes, ruas, avenidas e estradas já foram interrompidas. No centro da cidade, grupos começam a se mobilizar com tambores, assobios e canções. Desempregados e famílias carentes interromperam a principal ponte de acesso a Buenos Aires. Há ameaças de novos saques nos supermercados. Vários grupos estão nas portas de supermercados pedindo alimentos. Alguns estabelecimentos já fecharam suas portas temendo novos saques. O coordenador do movimento, Jorge Ceballos, afirmou que "os vizinhos dos bairros da capital e da grande Buenos Aires solicitam alimentos porque têm fome e não têm emprego". Já o presidente Eduardo Duhalde e alguns de seus ministros declararam que a manifestação popular é totalmente legal e que o povo tem o direito de protestar e expressar sua raiva. Porém, existe temor por infiltrações de grupos radicais, tanto de esquerda como de direita. A violência que esses setores podem gerar preocupa o governo, que quer evitar, ao máximo, usar a violência para reprimir atitudes mais radicais. O governo está convencido de que a repressão pode agravar ainda mais a situação política, razão pela qual teme ser forçado a reprimir, como ocorreu no dia 20 de dezembro, quando o presidente Fernando de la Rúa renunciou, e, alguns dias depois, Adolfo Rodrígues Saá não suportou a pressão e também foi obrigado a abandonar a Casa Rosada. O ministro do Interior, Rodolfo Gabrielli, advertiu, no entanto, que reprimirá os manifestantes violentos que provocarem quebradeira e agressões. Ele pediu aos moradores que realizem estes protestos pacificamente e que não permitam a infiltração de indivíduos a serviço de outros interesses e que provocam violência. Com isso, dizem alguns analistas políticos, a intensidade dos protestos e da reação da polícia poderá determinar as chances de sobrevivência desta administração. O "panelaço" de hoje à noite foi organizado por associações de bairro e sua difusão foi feita por meio da Internet e de panfletos distribuídos nas ruas da cidade. Os argentinos sabem, entretanto, que as manifestações contra o "corralito" vêm da classe média e classe média alta, que foram as mais afetadas com o confisco dos depósitos. A classe pobre praticamente não tinha e não tem dinheiro nos bancos. Daí as dúvidas sobre o sucesso deste panelaço organizado. O protesto não deve atrair grupos políticas nem sindicatos, que estão igualmente sendo rejeitados pela população. Devem participar, entretanto, estudantes, as Mães da Praça de Maio, Associação de Quiosques, comerciantes, e, claro, argentinos de classe média de bairros mais favorecidos. O risco maior, entretanto, está localizado no Interior do país, onde a violência não é mais uma novidade.

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