Jorge Timossi veio ao Brasil – a Brasília, ao Rio e a São Paulo – para organizar as atividades da próxima 14ª Feira Internacional do Livro de Havana, em que o Brasil será o país homenageado. Esta entrevista foi realizada sábado, 7 de agosto, no Rio de Janeiro.
– Você veio ao Brasil em função da organização da próxima Feira Internacional do Livro de Havana. Que propostas trouxe?
– Vim como vice-presidente do Instituto Cubano do Livro e para conversar com personalidades e instituições do país que permitam ter uma grande presença da cultura brasileira, em todas suas manifestações, na nossa Feira do Livro, que será dedicada a Brasil.
– Que significa ela ser dedicada ao Brasil?
– Nossa Feira sempre é dedicada a um país de honra, para que seja o centro da mostra expositiva, em diferentes manifestações, não somente em livros e literatura, mas também em música, artes plásticas, cinema, teatro. O Brasil será papel central para atrair o público cubano entre os outros países que participam da Feira, que são cerca de 25.
– Quando se realiza a Feira?
– Em Havana, de 3 a 13 de fevereiro próximos. A expectativa é que meio milhão de pessoas compareçam em Havana, uma cidade de 2 milhões de pessoas. O evento acontecerá em uma fortaleza da colônia espanhola, a maior da América Latina, que se chama Fortaleza de São Carlos de la Cabaña, que está na entrada da baía de Havana, rodeada pelo mar do Caribe.
– Como se dará a participação brasileira?
– Em primeiro lugar haverá as presenças do Ministério da Cultura, do Instituto Nacional do Livro, da Academia Brasileira de Letras, da Fundação Biblioteca Nacional e de outras instituições públicas e também privadas, como o Sesc. Teremos escritores com Fernando Morais, Ferreira Gullar, Frei Betto, Ziraldo, Emir Sader e uma mostra de cinema brasileiro. Haverá uma retrospectiva em homenagem a Glauber Rocha, o fundador do novo cinema latino-americano. No domínio das artes plásticas, por exemplo, haverá uma excelente exposição do grande pintor Cândido Portinari, com painéis de suas obras, inclusive os painéis de paz e guerra e de sua vida. Na música, pensamos centrá-la em Heitor Villa Lobos, que foi um grande amigo do nosso principal novelista Alejo Carpentier.
– Em que marco se dará essa Feira?
– A cultura, tanto cubano como universal, está no centro da política da revolução, muito relacionada com a educação. Nós temos, dois canais de TV educativos, em um dos quais se está ensinando o idioma português. Calcula-se que um milhão de pessoas estão estudando português. A vasta cultura brasileira é muito conhecida em Cuba, tanto por sua literatura, sua música e telenovelas.
– Você nasceu na Argentina, e mais tarde foi nacionalizado cubano. Como se deu tudo isso?
– Na minha adolescência, eu era um químico que queria deixar a química e escrever sobre a América Latina. Naqueles anos de 56 e 57, Buenos Aires tinha um muro invisível que não deixava ver a realidade da América Latina. Comecei a me reunir com um grupo de pessoas, quase todas mortas mais tarde pelas ditaduras militares: um grande escritor e jornalista, como Rodolfo Walsh, um poeta como Paco Urondo, uma jornalista e promotora como Piri Lugones, neta do poeta Leopoldo Lugones, e também havia um desenhista excepcional, Quino. Decidi sair da Argentina com uma mochila no ombro, sem saber ainda que o Che existia, e Rodolfo Walsh me indicou um endereço no Rio, para que eu mandasse os artigos que escrevesse durante viagem, porque se triunfasse uma revolução em um país chamado Cuba, se criaria uma agência de notícias chamada Prensa Latina. Então eu saí de viagem pela Bolívia, estive muito tempo nas minas de Oruro, que foi para mim um momento fundamental. Foi quando escrevi um artigo que se chamou “Ainda existe a mita na Bolívia”, que em seguida eu vi publicado no jornal cubano Revolução, em julho de 1959.
– Nesse momento triunfou aquela revolução?
– Eu já estava