Neste artigo, Dalton Rosado detalha, com muita didática, a gênese, a função e o espírito das milícias hitleristas relacionando-as a seguir com as milícias brasileiras em formação, inspiradas pelo presidente Bolsonaro. (Nota do Editor)
Dalton Rosado, de Fortaleza:
Como sabemos, as milícias são grupos paramilitares que começaram espalhando terror em nome de uma pretensa proteção aos cidadãos cuja segurança não estava sendo garantida pelo Estado, passando depois a explorar outras oportunidades de negócios… ilegais.
As ideias nazistas foram se impondo aos poucos, favorecidas:
— em primeiro lugar, pelo descontentamento da população face às condições draconianas que os vencedores da 1ª Guerra Mundial impuseram à derrotada Alemanha e dificuldades econômicas para as quais elas concorreram (como a hiperinflação de 1923);
— e, depois, pela penúria que fustigou o país no período da grande depressão capitalista mundial iniciada com o crash de 1929 e que se prolongou pela década de 1930 adentro.
Hitler e seus asseclas surfaram na onda do resgate do orgulho alemão de predominância racial ariana, misturada com uma agressiva ação paramilitar contra judeus, ciganos, comunistas, etc. Assim, acabaram chegando ao poder pela via eleitoral, sem, contudo, abandonar as ações paramilitares de milicianos, a cargo das temíveis SA (Sturmabteilung, ou Destacamento Tempestade).
Já chanceler da Alemanha e um mês antes de tornar-se führer, com poderes ditatoriais, Adolf Hitler estava empenhado em a institucionalizar sua milícia, tornando-a uma espécie de guarda pretoriana inserida na estrutura de poder mas obediente apenas a ele e ao Partido Nazista.
Como Ernst Röhm, o líder das SA,resistisse à ideia, preferindo manter a milícia como força independente do Estado, Hitler ordenou o grande expurgo no qual foram assassinados Röhm e pelo menos 85 de seus camisas pardas: a noite das facas longas (2 de julho de 1934).
Röhn (no centro) queria manter as milícias fora do Estado |
Sua função foi preenchida pelas sinistras SS (Schutzstaffel, ou Tropa de Proteção nazista), devidamente legalizadas e que tinham Heinrich Himmler como líder.
Bolsonaro apóia ato de hostilização ao Congresso Nacional |
— temos um presidente que utilizou um partido de aluguel para eleger-se, abandonando-o em seguida para tentar viabilizar um novo partido, concebido à sua imagem e semelhança;
— temos um presidente que favorece o armamento indiscriminado da população, na esperança de que venham a ser utilizadas na viabilização de seus planos totalitários de poder absolutista, aproveitando-se da derrocada da democracia burguesa e da própria crise econômica do capitalismo, para, assim, promover o retrocesso político e civilizatório;
As primeiras (antes de abrirem o leque de suas atividades criminosas) surgiram vendendo proteção a uma população apavorada com o índice de criminalidade do Brasil, onde a média tem sido de 60 mil cidadãos por assassinados ao ano. Quem não tem uma ou mais história(s) de assalto para contar, seja de si mesmo(a) ou de pessoas próximas?
Sob o comando das milícias, em conexão com a influência política, ocorre a o casamento entre a corrupção com o dinheiro público e a exploração de atividades comerciais criminosas de reserva de mercado.
Isso somente poderia proliferar sob critérios sociais em decomposição: nossa ordem econômica é concentradora de riqueza e excludente de oportunidades de crescimento individual, situação agravada pela opressão promovida por um Estado cada vez mais endividado e incapaz de prover demandas sociais mínimas.
Há uma convergência implícita de interesses entre o crime organizado das facções que exploram o tráfico de entorpecentes, de armas, munições e jogos de azar; e as milícias, que vendem segurança (contra criminosos e contra elas mesmas), água, botijões de gás, internet clandestina e outros produtos, além de se inserirem no contexto do tráfico de drogas local e de se constituírem em braço paramilitar político.