A Justiça brasileira condenou os dois homens contratados para assassinar a missionária e ativista norte-americana Dorothy Stang. A morte de Stang, que defendia os colonos da região amazônica, chamou a atenção mundial no início do ano para a disputa letal por terras na fronteira brasileira da Amazônia.
– Fez-se justiça por Dorothy e pelos pobres da Amazônia – disse o irmão de Dorothy, David Stang, enquanto colonos choravam e se abraçavam num tribunal lotado.
A comarca de Belém condenou, no final da noite deste sábado, Raifran das Neves Sales a uma pena de 27 anos por atirar seis vezes em Stang, 73. Clodoaldo Carlos Batista foi sentenciado a 17 anos de prisão por ser cúmplice no assassinato, ocorrido em 12 de fevereiro. Segundo os promotores, o crime foi encomendado por fazendeiros locais por 50 mil reais.
Nascida em Dayton, Ohio, Stang passou os últimos 30 anos lutando pelos direitos dos trabalhadores rurais e morreu quando negociava a criação de uma reserva numa valiosa área de floresta tropical, rica em madeira. Seu trabalho colocou a missionária em conflito direto com os fazendeiros e grileiros da maior floresta tropical do mundo. Stang foi assassinada no Estado do Pará, uma área de floresta duas vezes o tamanho da França, onde 772 ativistas foram mortos nos últimos 30 anos e somente nove pessoas foram condenadas pelos crimes.
O caso Stang serviu como um teste para avaliar a intenção do Brasil de processar os pistoleiros na Amazônia, assim como os fazendeiros e grileiros que os contratam. Dois fazendeiros são acusados de ter encomendado o crime e um terceiro, de organizar a ação, mas ainda não foram a julgamento. Raifran relatou que entrou em pânico e atirou na freira para se defender porque acreditava que Stang ia tirar uma arma da bolsa. Batista e uma testemunha afirmaram que Stang leu versículos da Bíblia antes de ser assassinada.
– De agora em diante, eles vão pensar duas vezes antes de fazer ameaças ou cometer outros crimes – afirmou José Amaro, um padre católico e ativista que trabalhava com Stang na cidade de Anapu.
As Nações Unidas e o governo brasileiro consideraram o julgamento como o primeiro passo para acabar com a corrupção e a impunidade que provocam a violência na Amazônia. Muitos acreditam que o julgamento dos três fazendeiros será o verdadeiro teste para medir como o governo brasileiro irá combater os poderosos donos de terra acusados de patrocinar assassinatos. Uma investigação do Senado afirmou que os crimes não terminarão até o governo quebrar a rede de policiais e juízes que, segundo muitos, ignoram ou defendem os assassinatos.
– Esse é o começo. Agora vamos pegar os mentores – disse a senadora Ana Julia Carepa, do PT.