Até quando, Bolsonaro, abusarás da nossa paciência?

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Publicado Segunda, 28 de Junho de 2021 às 10:02, por: CdB

Até quando, Bolsonaro, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós? A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?

Por Rui Martins
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A paciência vai chegando ao limite
Nem a guarda do Alvorada, nem a vigilância constante da imprensa, nem o temor de Deus e do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem a CPI do Senado, nada disto consegue te perturbar?
Este desabafo não é meu, mas do cônsul romano Marco Túlio Cícero, pronunciado em 63 a.C., no templo de Júpiter, o deus da época. Denunciava o senador Lúcio Sérgio Catilina, um hipócrita, mentiroso, populista, que tramava um golpe contra a república romana da época, governada por magistrados com o Senado: o assassinato dos dois magistrados, eleitos cônsules para dirigir a república. Para tanto, Catilina contava com o apoio da milícia de então.
A História sempre se repete. Guardadas as diferenças, 2084 anos depois facilmente identificamos no pernicioso e maldoso Catilina, apoiado pelos bandidos romanos daquele tempo, os mesmos traços e tendências do ambicioso presidente Bolsonaro, cujo nome, por coincidência é também latino.
Seria um descendente do senador romano? Impossível fazer hoje uma pesquisa genealógica, mas pode-se supor que sejam os mesmos genes. Hoje a conspiração não é mais secreta e prevê a destituição, ou morte política, da quase totalidade dos ministros do STF.
As milícias populares, praticamente todas bem equipadas graças à liberação da compra de armas, esperam apenas o sinal para fazerem a limpeza no Senado, na Câmara Federal e nas câmaras municipais.
Por mais reveladoras que sejam as conclusões da CPI do Senado, tudo será abafado pela Procuradoria Geral da República, e Catilina, perdão, Bolsonaro, promete convocar suas polícias e Exército se quiserem tirá-lo do seu trono.
Com a modificação do sistema eleitoral e retorno à cédula impressa, a intenção é a de se promover a fraude e garantir-se a reeleição de Bolsonaro. Caso não se concretize a possibilidade de fraude eleitoral e Bolsonaro não seja reeleito, imitando a derrota de Donald Trump, o recado já foi dado – haverá golpe. Mas Cícero já dizia, nos seus discursos chamados catilinárias:
"Não vês, Bolsonaro, que tua conspiração foi dominada pelos que a conhecem?"
Descoberta a tramoia, mesmo assim houve luta em Roma. E tanto Catilina como seus fiéis seguidores em fuga (alguns tinham preferido denunciar a trama, na esperança de serem perdoados), acabaram morrendo em combate.
Até quando, Bolsonaro? Até quando?
Mas vamos retomar o discurso de Cícero, considerado uma das mais belas peças de oratória da língua latina:
— "Até quando, Bolsonaro, continuarás louvando a cloroquina como prevenção e remédio contra o coronavírus, contrapondo-se à ciência, aos médicos de todos os países do mundo e à Organização Mundial da Saúde?"
— "Até quando esconderás o quanto faturaram os laboratórios brasileiros fabricantes da cloroquina e dos remédios dos kit Covid e por que fazias tanta propaganda desses engana-trouxas e, ao mesmo tempo, evitavas comprar vacinas?"
— "Até quando vais continuar a negar ser tua culpa essa tragédia sanitária da morte de meio milhão de pessoas, número que poderá aumentar até chegar a um milhão de mortos?"
— "Até quando permitirás que se destrua a Floresta Amazônica para se criar gado, plantar soja e instaurar o garimpo sem controle, com invasão de áreas protegidas e assassinato de indígenas?"
— "Até quando continuarás a distribuir títulos de propriedade de áreas devastadas por incêndios de florestas e invasão de aldeias indígenas?"
— "Até quando destruirás nossas grandes empresas estatais, vendendo-as para capitais estrangeiros, acabando com nossa independência econômica, leiloando nossas riquezas?"
— "Até quando continuarás a modificar as leis que protegiam os pobres, diminuindo a classe média e empobrecendo a população brasileira?"
— "Até quando vais permitir a modificação do ensino laico nas escolas, deixando pastores evangélicos alterarem o que foi feito por nossos grandes educadores?"
— "Até quando detonarás o prestígio internacional do Brasil, hoje colocado fora dos principais órgãos internacionais?"
— "Até quando continuarás destruindo tudo quando foi construído até aqui com inteligência e cultura?"
— "Até quando vais destruir nossas universidades públicas com o corte de verbas de manutenção e pagamento de professores?"
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Até quando? Até quando? (Publicado também no Observatório da Imprensa e no blog Náufrago da Utopia)
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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
Direto da Redação é um fórum de debates publicado no Correio do Brasil pelo jornalista Rui Martins.
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