Publicado sexta-feira, 7 de setembro de 2018 as 11:38, por: CdB
O Direto da Redação condena todo tipo de violência mesmo contra quem prega a violência. Defendemos o exercício pleno da democracia e, por isso, condenamos o atentado contra o candidato da extrema direita Jair Bolsonaro, com cujas ideias não concordamos, mas que nosso país democrático permite concorrer a Presidência, deixando às urnas e ao povo se pronunciarem. Não toleramos qualquer tipo de atentado como também lamentamos o clima de incerteza no qual decorre a campanha eleitoral, no qual o PT insiste em manter uma candidatura fantasma, desnorteando seus seguidores e questionando sem cessar nossas instituições jurídicas democráticas, enquanto alega à ONU a não existência dessas mesmas instituições como se o Brasil vivesse numa ditadura. Transcrevemos um texto do nosso colunista Celso Lungaretti. (Nota do Editor Rui Martins).
Por Celso Lungaretti, de São Paulo:
Nós condenamos todos os atentados que se façam à democracia
Espero que Bolsonaro faça uma reflexão sobre aonde podem levar as pregações do ódio. Afinal, agora está sentindo na carne que elas não valem a pena, jamais!
Quanto ao aloprado que esfaqueou Bolsonaro, foi filiado ao Psol entre 2007 e 2014, o que certamente será capitalizado à exaustão pelos inimigos do partido. O dano que ele causou ao Psol e a toda a esquerda brasileira é gigantesco. Simplesmente, abriu uma brecha para o imponderável. Daqui pra frente, tudo pode acontecer.
Aparenta ser um homem de tão poucas leituras quanto luzes, portanto dificilmente conhecerá a história de Gregório Fortunato, um guarda-costas de Getúlio Vargas que, além do dever profissional, tinha verdadeira adoração pelo chefe.
Oliveira: dano gigantesco!
Indignado com as críticas virulentas que o jornalista Carlos Lacerda fazia a Vargas, decidiu calá-lo a tiros por conta própria, em agosto de 1954.
Tão trapalhão quanto o de hoje, apenas atingiu seu alvo na perna, mas os disparos acabaram matando um oficial da aeronáutica que acompanhava o Lacerda.
Resultado: foi o impulso definitivo para as Forças Armadas ficarem em pé de guerra, exigindo a renúncia de Vargas.
À alternativa de sair do poder escorraçado, Getúlio preferiu o suicídio, a forma que lhe restara para (por meio da carta-testamento) contra-atacar, frustrando os planos de tomada de poder por parte da direita.
O tal Adélio Bispo de Oliveira já deve ter conseguido matar a candidatura de Guilherme Boulos. Vejamos quantos estragos mais sua estupidez causará.
Agora há o risco da retaliação
Como nossas otoridades se mostram tão incompetentes para zelarem pela segurança de presidenciáveis quanto para impedirem que museus virem cinzas, vou dar-lhes uma mãozinha.
A História nos ensina que atentados políticos são como um tabu: uma vez rompido, outras ocorrências semelhantes tendem a vir na sequência.
Atentado nos aproxima ainda mais do caos total
Sabemos como são os devotos do Bolsonaro, então será uma temeridade deixarmos de considerar a hipótese de uma vingança. Eles vão se considerar agredidos e há grande chance de um ou mais sentirem-se compelidos a dar demonstração de força.
Contra quem? Existem possíveis alvos em profusão, mas quatro são os mais óbvios, portanto devem receber atenção especial:
Boulos, por ser o candidato do partido ao qual o esfaqueador foi filiado no passado;
Ciro e Marina, por serem de centro-esquerda e ex-ministros do Lula; e
o próprio Lula, o troféu que essa gente mais cobiça.
Pode até ser excesso de preocupação da minha parte. Mas, todos temos de fazer o que estiver ao nosso alcance para evitar o imponderável. E já estou cansado de ver colocarem a tranca só depois de a porta haver sido arrombada.
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia (Geração Editorial). Tem um ativo blog com esse mesmo título.
Direto da Redaçãoé um fórum de debates editado pelo jornalistaRui Martins.