Sayed Badreya não representa muito bem, mas o fato é que nunca precisou. A única coisa que Hollywood sempre quis dele é que parecesse um terrorista enlouquecido.
Agora o ator egípcio, que já foi vilão em filmes como “O Informante”, “Três Reis” e “Momento Crítico”, vai poder se “vingar” com o curta-metragem cômico “T for Terrorist”.
Badreya faz o papel de um ator que perde a paciência quando o diretor pede que ele faça expressões cada vez mais ensandecidas numa “cena de terrorismo”. Ele acaba apontando uma arma para todos os que estão no set de filmagem e obriga o diretor a fazer o papel do lunático armado.
Mas no fim se descobre que a cena toda não passara de sonho, e o curta termina com Badreya, resignado, voltando ao trabalho, repetindo sua fala: “De joelhos, americanos fedorentos! Em nome de Alá, matarei vocês todos!”
“T for Terrorism”, que custou 30 mil dólares, passou este ano percorrendo o circuito dos festivais norte-americanos e, no fim de semana passado, foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Dubai, como parte dos filmes que focalizam as relações entre Oriente e Ocidente.
Badreya viu o filme como prova de que Hollywood está começando a questionar os estereótipos de árabes que ela própria tão frequentemente projeta.
“Existe em Hollywood um movimento no sentido de nos deixar contar nossa própria história”, disse o ator num seminário, acrescentando que os atores de “T for Terrorism”, entre eles o conhecido americano de origem árabe Tony Shalhoub, trabalharam de graça no filme.
“Não existe história árabe na tela. Os americanos e os europeus contam nossa história e, se eles a contam, ela certamente não vai sair cheirando a esfiha.”
Desde os ataques de 11 de setembro de 2001, árabes e muçulmanos se queixam de um sentimento negativo com relação a eles nos Estados Unidos. O sentimento antiamericano é forte no Oriente Médio em função da guerra no Iraque e do que é visto como sendo o apoio dado pelos EUA a Israel no conflito contra os palestinos.
Em Dubai, as atenções foram centralizadas por filmes sobre o mundo árabe, mas feitos fora da região, em sua maioria por não árabes.
O ator egípcio Hussein Fahmy disse que o enfraquecido cinema árabe não tem sido capaz de promover a imagem árabe para o restante do mundo.
“No fim só vão nos sobrar os cinemas americano e indiano, porque apenas eles têm o poder de distribuir filmes nos cinemas”, disse ele, acrescentando que, no mundo árabe, “estamos perdendo dinheiro com o cinema”.
Atores de Hollywood que viajaram até Dubai, no Golfo Pérsico, disseram que o mundo árabe ainda não é alvo prioritário de reavaliação por Hollywood.
“Os cineastas do Oriente Médio não são as únicas pessoas que têm dificuldade em promover seus filmes”, disse a jornalistas a protagonista de “The Grudge”, Sarah Michelle Geller.
“Até hoje uma mulher não pode abrir um filme de ação, como pode Tom Cruise, ou uma comédia, como Jim Carrey”.
Mas o diretor de “T for Terrorism”, Hesham Issawi, vê sinais de esperança em Hollywood: “Eles não odeiam os árabes realmente. Eles não nos conhecem. O problema é mais de desconhecimento do que de ódio.”