Aventura do golpe de Estado agrava pior crise econômica em um século

Arquivado em:
Publicado Segunda, 21 de Novembro de 2016 às 11:44, por: CdB

O resultado do rompimento com o contrato eleitoral, após o golpe de Estado, fica mais visível nos relatórios do Banco Central (BC)

 

Por Redação - de Brasília

 

Presidente de facto, Michel Temer assumiu o posto para o qual foi eleita a presidenta Dilma Rousseff. Em meio ao golpe de Estado perpetrado pelas forças de ultradireita, o então vice-presidente apoia-se, ainda, em alianças formadas nos meios jurídico e midiático. Mas, nos mais de seis meses que se seguiram, a crise econômica agrava-se, dia após dia. Economistas ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil apontam esta como a pior crise econômica em um século.

temer-conselho.jpgTemer, ao lado do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e do titular da Fazenda, Henrique Meirelles, tenta culpar o governo Dilma pela crise

Investidores internacionais abandonam posições no país, diante da quebra do regime democrático. Os grandes bancos aumentam a percepção de alto risco, diante dos escândalos na equipe de governo. Parte da base parlamentar que sustenta a aventura golpista começa a medir as consequências da decisão tomada, na madrugada do último 13 de Maio.

Juros mais altos

O resultado do rompimento com o contrato eleitoral fica mais visível nos relatórios do Banco Central (BC). Nesta segunda-feira, as instituições financeiras consultadas pela autoridade monetária apontam para nova queda da economia (Produto Interno Bruto - PIB). Este ano, a depressão foi ajustada de 3,37% para 3,40%. Para 2017, a expectativa de crescimento foi alterada de 1,13% para1%, com novo viés de declínio.

A expectativa para a taxa básica de juros, a Selic, permanece em 13,75%, até dezembro. E em 10,75% ao ano, no fim de 2017. A taxa é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). Serve também como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o BC contém o excesso de demanda que pressiona os preços. Juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Quando reduz os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo. Mas alivia o controle sobre a inflação.

Os economistas ouvidos na pesquisa do BC até que reduziram a projeção de inflação, pela segunda vez seguida. A estimativa para a alta de preços, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), caiu de 6,84% para 6,80%. De acordo com a pesquisa Focus, divulgada às segundas-feiras pelo BC, a estimativa para 2017 foi mantida em 4,93%. Todas as projeções ultrapassam o centro da meta que é 4,5%. O teto da meta é 6,5% este ano, e 6% em 2017.

Ilusão do golpe

A despeito dos números apresentados pela economia brasileira, o presidente de facto, agora, diz ser preciso acabar com a ideia de que basta mudar o governo para resolver os problemas do país. Este, seis meses atrás, foi o principal mote de seu discurso, pouco antes do golpe. Temer falou após a reunião do Conselho Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social. Criado no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ‘Conselhão’, como foi chamado, reúne brasileiros notáveis.

Ao abrir a primeira reunião do Conselho na nova administração, Temer ressaltou que a retomada do crescimento é a "prioridade número um do nosso povo, e portanto do nosso governo”. Ele destacou a necessidade de aprovação pelo Congresso das medidas de cortes de gastos públicos.

— Precisamos estancar a ideia de que bastou mudar o governo e tudo se transformou em um céu claro. Três fases são indispensáveis. O combate à recessão, o crescimento e, como consequência, a retomada do emprego — afirmou.

Desemprego

Temer ainda tentou atacar a presidenta Dilma. Chamou de "ilusionismo" a maneira que a economia foi conduzida antes da mudança de governo. Agora, diz ele, "a realidade bate à porta".

— Nossa crise é de natureza fiscal. Por muito tempo o governo gastou mais do que podia. Agora a realidade bate à porta e cobra seu preço. Ao levantarmos o manto da chamada contabilidade criativa descobrimos que o déficit é de R$ 170 bilhões — esquiva-se.

Para Temer, em vez do golpe de Estado, foi a crise fiscal que "ruiu a confiança do empresário e do consumidor" e levou ao aumento do desemprego.

— Esse descuido é pago pelo trabalhador, que sente os efeitos da irresponsabilidade no bolso — acrescentou.

‘Cisão raivosa’

Ciente da convulsão social, nas ruas, o presidente de facto agora diz ser necessário “pacificar o Brasil”. Diz ele que esse é seu "objetivo principal".

— Não há como continuar com o Brasil dividido. Dividido em ideias, não tem importância, em conceitos, não tem importância, A democracia vive de controvérsia. Não pode é haver um cisão raivosa entre os vários brasileiros, nós que sempre tivemos a fama se ser conciliadores — apela.

Criado em 2003, o chamado Conselhão é uma instância consultiva da Presidência da República, ligado à Casa Civil. Ao tomar, efetivamente, o cargo da presidenta Dilma, Temer aumentou o número de participantes. Passou de 92 para 96 e alterou sua composição.

Sem trabalhadores

Setores mais ligados a movimentos sociais e sindicatos, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o MST e a União Nacional dos Estudantes (UNE) foram trocados por nomes como Paulo Skaf, da Federação das Indústrias de São Paulo, e o consultor Murillo de Aragão.

Foram mantidos os empresários Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho da Magazine Luiza, e Jorge Gerdau Johannpeter. Ele é presidente do Conselho do Grupo Gerdau.

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo