O Banco Central reduziu ligeiramente sua previsão sobre a inflação em 2016, ainda acima do centro do meta, argumentando que as expectativas para o próximo ano continuam não ancoradas, num sinal de que o aperto monetário deve ser mais intenso.
Pelo Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta quarta-feira, o BC também repetiu que é necessário “perseverança e determinação” para combater a alta de preços na economia.
– As expectativas de inflação para o final de 2016 ainda mostram diferença relevante em relação à meta. Isso, a despeito da queda em comparação com os níveis observados no Relatório de Inflação de março e da significativa elevação das expectativas de inflação para o ano corrente – trouxe o documento.
– Esses fatos constituem um importante sinal sobre os efeitos da estratégia atual de política monetária – completou.
O BC passou a ver o IPCA a 4,8% no próximo ano, sobre 4,9% antes, ainda não atingindo os 4,5% perseguidos no centro da meta, que tem margem de dois pontos percentuais para mais menos.
O mercado aguardava a divulgação do dado para calibrar suas expectativas em relação aos próximos passos do aperto monetário conduzido pelo BC, que vem repetidamente reiterando seu compromisso em levar o IPCA para o cento da meta.
A inflação surpreendeu em maio ao acelerar a alta a 0,74%, acumulando em 12 meses 8,47%. A prévia para o desempenho do índice em junho continuou mostrando pressão, com o IPCA-15 subindo 0,99% neste mês, a maior alta em quase 20 anos.
Em meio ao persistente avanço nos preços, guiado principalmente pelo reajuste de preços administrados, o BC elevou a Selic em 0,5 ponto percentual no início do mês, a 13,75% ao ano, na quinto ajuste consecutivo dessa magnitude.
Na ata da decisão, a autoridade monetária já havia endurecido o discurso ao afirmar que havia a necessidade de “determinação e perseverança” –palavras repetidas no relatório divulgado mais cedo– no combate à inflação, o que acabou levando a maior parte dos especialistas a acreditar que o atual ciclo de aperto monetário poderia ser mais intenso do que o esperado.
– (O BC) mantém o ciclo de ajuste, possivelmente com mais uma alta de 50 pontos base e aí fica a dúvida se tem mais uma alta de 50 pontos base ou 25 pontos base na outra reunião do Copom – disse o economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo, em relação ao encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) que será realizado no fim de julho.
No mercado futuro de juros, os DI abriram esta sessão em forte alta, reforçando as apostas de que o atual ciclo deve ser mais intenso do que o esperado até então. Segundo operadores, as apostas agora mostram que a Selic vai subir a 14,75% ao ano, acima dos 14,50% esperados até a véspera.
Para o IPCA em 2015, o BC estimou avanço de 9,0%, acima dos 7,9% de antes e bem próximo ao aumento de 8,97% projetado por economistas de instituições financeiras no último boletim Focus. E o BC vê chance de cerca de 99% de a meta não ser cumprida neste ano e de 11% em 2016.
Em relação à atividade econômica neste ano, o BC piorou sensivelmente suas estimativas, passando a ver contração de 1,1% no Produto Interno Bruto (PIB), na comparação com projeção anterior de retração 0,5%.
E, em 4 trimestres, vê o PIB encolhendo 0,8% até o primeiro trimestre de 2016.