Bayer responde a processo por pílula Yasminelle

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Publicado Sexta, 18 de Dezembro de 2015 às 07:48, por: CdB

A ex-estudante de veterinária alega ter sofrido dupla embolia pulmonar em consequência da ingestão do contraceptivo Yasminelle, da Bayer, que contém o hormônio drospirenona

Por Redação, com DW - de Berlim: Há gerações as mulheres estão aptas a viver uma liberdade sexual até então inimaginável, em grande parte graças à pílula anticoncepcional. Ministrada corretamente, "a pílula" tem uma eficácia de mais de 99% na prevenção da gravidez: somente na Alemanha, 6,8 milhões de pacientes a tomam. No entanto, algumas marcas vêm acompanhadas do risco de efeitos colaterais. Na quinta-feira iniciou-se na cidade de Waldshut-Tiengen, no sul da Alemanha, um processo contra a gigante farmacêutica Bayer. O recurso judicial foi impetrado em maio de 2011 pela alemã Felicitas Rohrer, atualmente com 31 anos, que exige da empresa uma indenização de 200 mil euros. A ex-estudante de veterinária alega ter sofrido dupla embolia pulmonar em consequência da ingestão do contraceptivo Yasminelle, da Bayer, que contém o hormônio drospirenona.
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Yasminelle contém hormômio drospirenona

Histórico de ações nos EUA

Em 2009, Rohrer, na época com 25 anos, teve um desmaio súbito e seu coração parou de bater por 20 minutos. Durante a operação de coração aberto de emergência, os médicos detectaram enormes coágulos obstruindo a artéria principal que irriga os pulmões. – Eu não tinha nenhum distúrbio hemofílico, nenhuma afecção prévia nem casos de doença na família. Nunca fumei, não estou acima do peso e sempre fiz exercícios – registra a autora do processo em seu site de Internet. Não encontrando nenhuma explicação alternativa, os médicos atribuíram a culpa ao medicamento da Bayer, que Rohrer vinha tomando há oito meses. Desde a cirurgia, oito anos atrás, ela tem que tomar um anticoagulante que reduz suas chances de ter filhos. Embora o caso seja o primeiro do gênero na Alemanha, nos Estados Unidos ações jurídicas similares têm sido frequentes. A Bayer já teve que pagar o equivalente a 1,75 bilhão de euros em indenizações no país por 9 mil casos de supostos efeitos colaterais. Somente em 2014, a multinacional desembolsou 768 milhões de euros em ações perdidas, relacionadas à linha de anticoncepcionais que inclui Yaz, Yasmin e Yasminelle.

Estudos reforçam suspeitas

Vários estudos recentes mostram que medicamentos contraceptivos contendo drospirenona elevam em até três vezes o risco de embolias e tromboses, em comparação às gerações anteriores de anticoncepcionais. A lista desses medicamentos inclui tanto a linha Yasmin da Bayer como a Aida e Petibelle, da também alemã Jenapharm. Com base nos dados de 1,6 dinamarquesas que durante anos haviam tomado anticoncepcionais contendo drospirenona, os autores de uma pesquisa também concluíram que o risco de infarto ou AVC era maior para essas mulheres do que entre as que adotavam métodos contraceptivos não hormonais. O Instituto Federal de Medicamentos e Produtos Médicos (BfArM) da Alemanha, por sua vez, recebeu relatos sobre 478 mulheres que sofreram trombose nos últimos 15 anos, às quais era igualmente ministrada drospirenona. Dezesseis dos casos foram fatais.

Bayer rebate

Apesar destes e de outros dados, a gigante farmacêutica alemã insiste quanto à segurança de suas pílulas anticoncepcionais. Segundo declarou em entrevista à agência alemã de notícias DW o porta-voz para saúde feminina Michael Diehl, os contraceptivos orais de sua companhia, "mesmo os que contêm drospirenona, apresentam um perfil de risco positivo para o usuário, se ingeridos segundo as indicações". Além disso, toda prescrição se basearia na avaliação individual dos fatos de risco e da saúde pessoal. "Antes de se prescrever um anticoncepcional oral moderno, de baixa dosagem, médico e paciente deveriam ter uma conversa detalhada sobre fatores de risco pessoais e familiares, como tabagismo, obesidade ou trombose na família", disse Diehl. Por outro lado, em relatório divulgado em 2014 por uma das principais seguradoras de saúde pública alemãs, a Techniker Krankenkasse, o farmacologista Gerd Glaeske criticou os médicos e a Bayer pela falta de informação sobre a linha Yasmin. Trata-se da "primeira pílula que tem uma abordagem de marketing voltada para a beleza e o bem-estar", abrindo campo para alegações de que os anticoncepcionais seriam eficazes também no combate à acne. "Devido aos efeitos anti-hidrorretentivos da Yasmin, é menos provável que as pacientes ganhem peso", apontou Glaeske.

Antes e depois do Yasminelle

Após ser submetida à cirurgia, Felicitas Rohrer fundou um grupo de autoajuda que se engaja para a Bayer retirar das prateleiras os anticoncepcionais contendo o hormônio drospirenona. Se a campanha tiver êxito, não será a primeira vez que a multinacional é obrigada a suspender a produção de um de seus produtos contraceptivos. Na França, em 2014, ela foi obrigada a retirar do mercado o Diane-35, indicado no tratamento da acne, depois que quatro mortes por trombose foram associadas a seu uso. Nesse caso, a Bayer só aprovara oficialmente o hormônio para o combate a afecções de pele. No entanto, numerosos médicos passaram a prescrevê-lo como contraceptivo. Após uma reavaliação pela Agência Europeia de Medicina, a droga foi retirada do mercado. Enquanto a Bayer enfrenta seu primeiro processo de drospirenona no próprio país, do outro lado do Atlântico acumulam-se novas ações de indenização: mulheres se queixam ter sofrido dores e hemorragias severas após a aplicação do dispositivo de esterilização Essure.
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