Em mais um movimento de afrouxamento da política monetária, o Banco Central anunciou nesta sexta-feira a redução de 15 pontos percentuais no compulsório sobre depósitos à vista. O compulsório foi reduzido de 60% para 45%, voltando ao patamar de fevereiro. Acrescido do compulsório adicional de 8%, na prática, a porcentagem para a ser de 53%. O compulsório é o dinheiro que os bancos são obrigados a depositar no Banco Central todos os meses.
A medida vai liberar R$ 8,2 bilhões para a economia até setembro. A estimativa é possível graças ao cronograma de recolhimento feito pelo Banco Central, no qual consta a divisão de dois grupos de instituições financeiras para fazer o depósito.
Depois de o BC ter iniciado em junho uma redução da taxa de juros, a queda do compulsório vinha sendo ansiosamente aguardada pelo mercado financeiro e pelo setor produtivo, como mais uma forma de estímulo à atividade econômica.
A decisão foi possível, segundo o BC, “graças à eficácia da política monetária” que fez a taxa de inflação convergir para a trajetória de metas combinada com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou a primeira deflação desde novembro de 1998. No mês passado, a inflação foi de 0,2%, dentro das expectativas do mercado, elevando a taxa acumulada no ano para 6,85%.
A medida terá impacto direto nos “spreads” bancários, impedindo que os bancos reduzam a diferença entre o custo pago ao credor e os empréstimos a pessoas físicas. Spread bancário é diferença entre o preço de compra e de venda de um título ou moeda. É, em última instância, o lucro da operação financeira e também vale para as taxas de juros.
A redução do compulsório, de acordo com nota distribuída pelo BC, “constitui mais uma medida de política monetária com vistas à recuperação consistente do nível de atividade da economia, sem comprometer as conquistas obtidas no combate à inflação”.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) afirmou recentemente que a recuperação do setor no segundo semestre dependia de menores juros, mas também da queda do compulsório para pelo menos 45%. A taxa básica de juros (Selic) encontra-se atualmente em 24,5% ao ano.
Analistas, no entanto, ponderavam nesta sexta-feira o real impacto prático da medida.
– (A queda do compulsório) é importante, politicamente pega bem, porque você tem uma restrição a menos…, mas primeiro tem que ter uma demanda por crédito, o que a gente não tem com essa atividade fraca e com os juros – afirmou Adauto Lima, economista do Westlb Banco Europeu.
No início da semana, o diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, havia sinalizado que a redução do compulsório poderia demorar mais do que o esperado pelo mercado financeiro. “Pode demorar um mês, dois meses (…) A gente está acompanhando, como sempre”, afirmou ele.
Ontem, em entrevista ao programa Espaço Aberto, da GloboNews, o presidente do BC, Henrique Meirelles se negou a dizer quando esta redução aconteceria. “O Banco Central não costuma comentar decisões futuras”, declarou.
Entrada em vigor
O BC informou em nota circular que a redução do compulsório passa a valer no dia 11 de agosto para as instituições do grupo B, com período de cálculo de 11 a 22 de agosto e movimentação entre os dias 20 de agosto e 2 de setembro.
Para as instituições do grupo A, a redução passa a valer no dia 18, com período de cálculo entre o dia 18 e 29 de agosto, e movimentação entre 27 de agosto e 9 de setembro.