Bebianno levanta suspeitas quanto à participação do ’02’ no episódio da facada

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Publicado Terça, 03 de Março de 2020 às 16:25, por: CdB

Embora não tenha afirmado, diretamente, Bebianno também deixou nas entrelinhas que Bolsonaro, de alguma maneira, já teria conhecimento de que um ato de violência o marcaria na campanha.

Por Redação - de São Paulo
Ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, o advogado Gustavo Bebianno sugeriu queo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o filho ’02’ do presidente da República, interveio na segurança do então candidato, no dia da suposta facada contra o pai, em Juiz de Fora (MG). — A única viagem que o Carlos fez conosco foi essa de Juiz de Fora e ainda deu azar. Ele atrapalhou o esquema de segurança, o que resultou no não uso do colete (à prova de balas) e naquela tragédia da facada — disse Bebianno, em entrevista aos jornalistas, no programa Roda Viva, noite passada.
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Bebianno disse que Bolsonaro esperava que um ato de violência marcasse a campanha presidencial
Embora não tenha afirmado, diretamente, Bebianno também deixou nas entrelinhas que Bolsonaro, de alguma maneira, já teria conhecimento de que um ato de violência o marcaria na campanha. No dia do suposto atentado, segundo o ex-ministro, ’02’ se comportou de maneira infantil e irresponsável. — Ele foi dentro do carro com um drone. Parecia uma criança. Nem eu, nem o capitão Cordeiro e nem o Max, do BOPE, pudemos ir no carro. O resultado? Ele (Bolsonaro) desembarcou sem o colete. O colete não teria evitado 100% o ferimento, mas teria limitado a penetração da faca — afirmou.

Santos Cruz

Ainda segundo Bebianno, o ’02’ tentou montar uma Agência Brasileira de Inteligência (Abin) paralela, logo que o pai tomou posse, no Palácio do Planalto. Questionado se o delegado seria o atual diretor da Abin, Alexandre Ramagem, Bebianno preferiu não responder. — Eu lembro o nome do delegado. Mas não vou revelar por uma questão institucional e pessoal — emendou o ex-ministro. O advogado lembrou que Carlos Bolsonaro sugeriu os nomes de um delegado federal e de três agentes para a suposta Abin paralela. Segundo Bebianno, ele e o então ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido meses depois, desaconselharam o presidente, sob o argumento de que a medida poderia motivar impeachment. Na entrevista, Bebianno também acusou Carlos Bolsonaro de comandar o conhecido "gabinete de ódio”, no Planalto, onde seriam forjadas as notícias falsas disseminadas nas redes sociais, em favor do pai. — Eu disse ao presidente que as notícias falsas não podiam estar dentro do Planalto porque poderiam dar em impeachment. Mas a pressão que o Carlos faz é tão grande que o pai não consegue se contrapor ao filho. É como aquela criança que quer um presente no shopping, esperneia e o pai não tem pulso para dizer não — denunciou Bebianno.

Processo

Na entrevista, Bebianno disse também que a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) acompanhou todos os movimentos relativos à propagação das notícias falsas. A parlamentar paulista confirmou à reportagem do Correio do Brasil a existência do “gabinete do ódio”. Ela ingressou, na véspera, com uma ação contra a colega de partido Carla Zambelli (SP), no Conselho de Ética da Câmara. Zambelli deverá tomar conhecimento, nas próximas horas, dos parlamentares sorteados para o julgamento de crime de que é acusada, o de atentar contra a honra da companheira de legenda. — A Joice se sentiu ofendida e precisou mobilizar um partido para atuar contra mim. Quer me calar e, a partir disso, mostra que não tem capacidade de aguentar o que a incomoda — disse Zambelli. A parlamentar, que compactua com as manifestações contra o Congresso disse ainda, nas redes sociais, o ataque que vitimou a deputada Gleisi Hoffmann durante encontro do PT em um hotel no Rio. Ela disse que era efeito de uma suposta "lei do retorno". A parlamentar, aliada incondicional de Jair Bolsonaro, já foi condenada a indenizar em R$ 40 mil o ex-deputado Jean Wyllys a quem acusou de pedofilia. Eleita com pouco mais de 76 mil votos, a deputada surgiu politicamente nas manifestações iniciadas em 2013 que culminaram com o golpe político contra Dilma Rousseff.

Outro processo

O Conselho de Ética também examinará o pedido em que o Partido dos Trabalhadores (PT) defende a cassação do mandato do deputado Filipe Barros do (PSL-PR). O PT acusa Barros de ter quebrado decoro durante a reunião da CPMI das Fake News ao associar o partido a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), e de ter ofendido o senador Humberto Costa (PT-PE), líder do partido no Senado. Para este caso, a lista tríplice é composta pelos deputados: Márcio Marinho (Republicanos-BA), Igor Timo (Pode-MG) e Guilherme Derrite (PP-SP). A definição dos nomes que vão assumir a relatoria dos casos está prevista ainda para esta semana. Uma condenação pelo Conselho de Ética pode levar o parlamentar a receber advertência pública até a cassação do mandato.
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