Benefícios do Espaço Schengen superam riscos

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Publicado Terça, 07 de Abril de 2015 às 08:15, por: CdB
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Nina Haase é jornalista da Deutsche Welle
  Faz pouco mais de uma semana que pais e amigos estiveram no aeroporto de Düsseldorf, esperando em vão que seus entes queridos retornassem de Barcelona. Eles não retornaram. Em vez disso, seus corpos foram resgatados apenas alguns dias atrás. Famílias na cidade alemã de Haltern e de outros locais estão apenas começando a tentar lidar com algo que jamais conseguirão digerir plenamente. O ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, disse na semana passada que os 150 passageiros e tripulantes do voo 4U-9525, da empresa alemã Germanwings, morreram num "ataque". Ele também afirmou que os investigadores deveriam ter sabido mais rapidamente o nome dos que estavam a bordo. As autoridades de segurança não tinham certeza, segundo ele, se havia agressores potenciais no avião, acrescentando que a lista de passageiros não inclui nacionalidades para pessoas do Espaço Schengen. "Isso é um risco de segurança gigantesco", disse o ministro do Interior, em entrevista a um tabloide alemão. Ele observou que deve ser considerada a possibilidade de se reintroduzir controles de fronteira. A ideia é errada – e por dois motivos: primeiro, as pessoas que tinham entes queridos naquele avião da Germanwings sabiam quem eram aqueles que não voltaram para casa – sem menção explícita de nacionalidade na lista de passageiros. Não abuse das vítimas de um acidente de avião. Se você quiser intensificar a vigilância de passageiros por causa da luta contra o "terrorismo", basta dizer. Só que, neste caso, não foi um terrorista que derrubou o avião. Foi, pelo que sabemos, um copiloto que tinha passado pelo curso de pilotos considerado um dos melhores do mundo, que trabalhava para uma respeitada companhia aérea alemã, mas tinha tendências suicidas. Um lobo solitário, se quiser. Em segundo lugar, os controles nas fronteiras na área Schengen foram abolidos há 20 anos, na maioria dos países europeus, porque governos acreditavam no princípio da livre circulação na Europa. É verdade que nem todo mundo adotou o princípio. Como o Reino Unido, por exemplo. Mas, para a maioria dos outros países da Europa, os benefícios superam os riscos. Toda vez que vou a algum lugar, adoro o fato de poder viajar livremente na Europa. A falta de controles nas fronteiras significa para mim que a União Europeia é mais do que um casamento de conveniência econômica entre os países. Significa que você pode praticamente subir e descer de aviões entre países como Alemanha, França, Bélgica, Eslovênia e Dinamarca e se sentir em casa, aonde quer que vá. Isso é o que a União Europeia é: um lugar onde cidadãos europeus se sentem como parte de um projeto maior, que vai além do conceito de Estado-nação. O presidente francês, François Hollande, afirmou em Berlim na semana passada que na tragédia da Germanwings, França e Alemanha não eram dois países unidos em luto. Eles eram um só. Basta lembrar o que aconteceu quando a Dinamarca tentou reintroduzir controles nas fronteiras, em 2011. Houve um clamor na Europa. Sob o novo governo, o país esqueceu rapidamente a ideia. E por quê? Se você precisar, basta olhar a partir de um ponto de vista puramente econômico: as regras de Schengen reduzem em muito o custo dos controles nas fronteiras e o tempo do transporte de mercadorias através da Europa. Compreensivelmente, após um incidente tão terrível como a tragédia da Germanwings, muitas pessoas estão pedindo agora ação política rápida. Ocorreu o mesmo após os ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos, em 2001. Naquela época, como consequência, as portas da cabine do piloto nos aviões modernos foram equipadas com um mecanismo de bloqueio, para impedir que terroristas tenham acesso à cabine. Foi esse detalhe, no entanto, que tornou possível a tragédia da semana passada. No que diz respeito às consequências da tragédia da Germanwings, não devemos nos deixar ser levados a limitarmos nossas liberdades – especialmente não em prol da luta contra o terrorismo.   Nina Haase,  é jornalista da agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW).
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