O único filme ligado à África no Festival de Cinema de Berlim, é Concerning Violence do realizador suéco Hugo Ollson Goeran, que fez uma compilação de reportagens da época da luta pela libertação do colonialismo, nos anos 60 e 70.
Ao mesmo tempo, é uma homenagem ao escritor e ideólogo Franz Fanon, nascido na Martinica, autor de um importante livro nos anos 60, Os Condenados da Terra. Fanon viveu uma época na França e teve participação no movimento pela independência da Argélia. Seu livro foi dos mais vendidos nos anos 60 e era disputado na antiga livraria Maspero, ponto de encontro de militantes inclusive brasileiros, no Quartier Latin parisiense. Deve-se a Fanon a expressão Terceiro Mundo.
O filme Concerning Violence, exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim, tem cenas das lutas da Frente de Libertacão de Moçambique (FRELIMO), do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e declarações do líder da Guiné-Bissau, Amilcar Cabral. Mostra também o líder da independência de Burkina Faso, Thomas Sankara, assassinado em 1987.
Logo após a primeira exibição do seu filme Concerning Violence, Hugo Ollson Goeran diz qual foi a fonte de sua inspiração –
« Eu li o livro de Franz Fanon e fiquei impressionado, pois o texto é fantástico e atualmente se torna ainda mais importante se ler esse livro, Os Condenados da Terra, e tentar entender a dinâmica da violência, na perspectiva do colonialismo. E depois de ter lido o livro decidimos fazer o filme baseado no seu texto »
O filme de Hugo Ollson Goeran fala de colonialismo, algo que poderia ter se acabado nas antigas colônias portuguesas, em 1975, com o reconhecimento de suas independências por Portugal, entretanto, a África de maneira geral conhece atualmente outra forma de domínio, o neocolonialismo. O cineasta se preocupe com essa nova realidade vivida pelos países africanos.
“ Eu acho que o neocolonialismo nos dias de hoje é mais é ainda mais eficiente que na época das colônias. Naquela época as grandes empresas tomavam as matérias primas e as transportavam para fora da África e em retorno não deixavam nada importante em matéria de hospitais, escolas, mas criavam os serviços de polícia para lhes garantir a segurança. Hoje se vê um roubo em grande escala das matérias primas na África.”
Rui Martins, de Berlim, convidado do Festival Internacional de Cinema