Enquanto o Brasil e toda a América Latina e Caribe padecem pelas mortes de mais de 100 mil compatriotas, em muitos casos fruto da ineficiência e da subestimação por parte dos governos, vide o exemplo brasileiro, para um seleto grupo de bilionários a história é outra.
Por Wadson Ribeiro – de Brasília
Enquanto o Brasil e toda a América Latina e Caribe padecem pelas mortes de mais de 100 mil compatriotas, em muitos casos fruto da ineficiência e da subestimação por parte dos governos, vide o exemplo brasileiro, para um seleto grupo de bilionários a história é outra. Incapaz de construir um mundo modestamente equilibrado, o capitalismo em tempos de pandemia faz com que os mais ricos fiquem cada vez mais ricos e os mais pobres cada vez mais miseráveis. Esse cenário aprofunda de forma mais intensa as desigualdades sociais e econômicas expondo as crueldades do sistema.
A Oxfam Brasil lançou na última segunda-feira o relatório informe “Quem paga a conta?, taxar a riqueza para enfrentar a crise da covid 19 na América Latina e Caribe”, que revela dados estarrecedores do enriquecimento de alguns bilionários durante a pandemia. Entre março e junho, 78 bilionários da América Latina e Caribe, uma das regiões com as maiores desigualdades socioeconômicas do mundo, aumentaram em U$ 48,2 bilhões seus patrimônios líquidos. Esse valor equivale a um terço de todos os recursos públicos disponibilizados através de pacotes de incentivos ofertados pelos governos da região.
No Brasil, que é um dos países com maior concentração de renda do mundo, em que 1% dos mais ricos concentram 28,3% da renda total, ficando atrás apenas do Qatar com 29%, um grupo seleto de 42 bilionários cresceram seus patrimônios líquidos em U$34 bilhões no mesmo período, saltando de U$123,1 bilhões para U$157,1 bilhões. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) da ONU de 2019, os 10% mais ricos do Brasil concentraram 41,9% da renda de todo o país. Para essa ínfima e privilegiada parcela da sociedade brasileira a pandemia significou aumento de riqueza, enquanto para a absoluta maioria dos brasileiros a qualidade de vida piorou.
Os bilionários ficaram ainda mais ricos
No mesmo período em que os bilionários ficaram ainda mais ricos, 40 milhões de pessoas poderão perder emprego em toda a região em função da pandemia. Estima-se que 52 milhões de latino-americanos serão empurrados para a faixa de pobreza. Do mesmo modo, no Brasil, aumenta o número de desempregados e praticamente metade da população economicamente ativa está na informalidade. As Micro e Pequenas Empresas, setor que mais gera empregos e que menos desemprega em épocas de crises econômicas, terão mais de 600 mil empreendimentos fechados.
O aumento da fome, do desemprego, da evasão escolar, das demandas pelos serviços públicos de saúde, da falta de moradia, da violência urbana, da falta de saneamento básico, contrasta com a realidade de uma pequena parcela que dirige o sistema capitalista e dele extrai seus ganhos bilionários, independentemente de crises sanitárias ou mesmo econômicas. O Capitalismo, até que os trabalhadores e grande parte do povo desenvolvam a consciência de que são maioria e que devem conduzir as rédeas da história, sempre encontrará formas de se regenerar, de se reencontrar e de estar pronto para obter mais lucro e dominação política e ideológica.
O que os ganhos astronômicos dos bilionários nos ensinam nesses momentos de pandemia é que não é possível salvar o capitalismo. A humanidade necessita de um novo sistema, capaz de tornar o planeta Terra um lugar em que a riqueza não se sobreponha à vida, ao meio ambiente, a inclusão, ao respeito ao próximo. Um mundo com novos valores democráticos e civilizacionais para uma época de pós pandemia.
Wadson Ribeiro, é presidente do PCdoB-MG, foi presidente da UNE, da UJS e secretário de Estado
As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil