Blair diz que poderia renunciar antes da guerra

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Publicado sexta-feira, 18 de abril de 2003 as 09:50, por: CdB

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, revelou, em entrevista publicada nesta sexta-feira em Londres, que estava preparado para renunciar caso seu partido se opusesse à sua decisão de se aliar aos Estados Unidos na guerra contra o Iraque.

Na entrevista ao tablóide The Sun, Blair contou que chegou a preparar sua família e seus assessores mais próximos para o preço que poderia ter que pagar pela revolta dentro do Partido Trabalhista.

“No final, a decisão faz com que você coloque toda a sua liderança em risco”, disse o premier. “A questão é que algumas pessoas terão que ir e morrer como resultado de nossa decisão… No fim, se você perder a chefia do governo, bem, perdeu”.

Blair também disse ao jornal que, nos primeiros dias da guerra lançada em 19 de março, teve receio de que a resistência por parte das forças iraquianas – mais forte do que se esperava – retardasse o avanço anglo-americano.

“Houve momentos em que parecia que estávamos atolando”, admitiu. “Passados 10 dias, eu me perguntava quanto tempo mais isso ia durar. Será que teríamos calculado mal a profundidade da resistência?”.

O apoio veemente de Blair à guerra, ao qual os britânicos responderam com gigantescas manifestações de protesto nas ruas de todo o país, foi um dos desafios mais duros enfrentados pelo premier em seus seis anos de governo.

Por fim, apesar da oposição de muitos trabalhistas e do partido Democrático Liberal, Blair conseguiu aprovar a resolução que comprometia o envolvimento de tropas britânicas no conflito. Ian Duncan Smith, líder do Partido Conservador, a principal força de oposição ao governo, votou a favor do premier.

Por outro lado, a decisão de Blair também lhe custou a renúncia de vários ministros e aliados, inclusive de Robin Cook, líder da Câmara dos Comuns e ex-secretário das Relações Exteriores.

Tamanha pressão antes da votação no Parlamento levou Blair a se reunir com a família e avisar aos filhos que seu cargo estava na berlinda.

“Eu me sentei com eles e, em um momento, expliquei que isso seria extremamente difícil e que havia a possibilidade de tudo se virar contra mim”, contou o premier ao The Sun. “Eles realmente me apoiaram, toda a família”.

Blair reconheceu, ainda, que o debate sobre a guerra foi “exaustivo e estressante”.

“Achei muito frustrante que houvesse tantas pessoas contra o que me parecia ser tão obviamente correto”, disse.

E, apesar de o apoio público na Grã-Bretanha ter aumentado desde o início da guerra, Blair revelou que continuou preocupado com os resultados do conflito – até, enfim, ver na televisão que os soldados norte-americanos estavam sendo bem recebidos em Bagdá.

O que mais deixou o premier britânico aliviado foi a derrubada da gigantesca estátua de Saddam Hussein em uma praça no centro da Bagdá, uma ação que simbolizou a queda do regime do presidente iraquiano.

“Aquilo foi demais”, lembrou Blair. “Eu fiquei encantado. E aliviado”.