Se é difícil prever quem sairá vitorioso na eleição presidencial dos Estados Unidos, é igualmente complicado dizer quem Tony Blair prefere ver na Casa Branca. Embora o premier britânico mantenha um silêncio obstinado sobre a eleição norte-americana, muita gente supõe que o aliado mais próximo de Washington prefira George W. Bush, com base na aliança dos dois no Iraque.
Mas, por outro lado, a vitória de John Kerry poderia tirar o primeiro-ministro britânico de uma relação que muitos enxergam como um peso, antes de sua tentativa de obter a reeleição no ano que vem.
Apesar de poucos membros do Partido Trabalhista, de Blair, terem entrado na campanha de Kerry como fizeram durante as duas campanhas vitoriosas de Bill Clinton, mantiveram algumas portas abertas para os democratas.
Ambos os partidos compartilham das mesmas raízes de centro-esquerda e sempre foram fortes aliados naturais até os ataques de 11 de setembro de 2001 e até que a aliança Bush-Blair balançasse alguns relacionamentos tradicionais.
De qualquer maneira, o resultado da eleição da próxima terça-feira com certeza influenciará a eleição geral britânica, prevista para maio do próximo ano.
-Ela mudará a política da eleição britânica – disse à Reuters o parlamentar trabalhista John Mann, que apresentou diversas moções apoiando Kerry.
Blair tem consciência dos erros de seus antecessores – o ex-premier conservador John Major apoiou George Bush pai contra Clinton em 1992 – e por isso não dá pistas sobre a sua preferência.
– Tenho o bastante com o que me preocupar na minha política, sem me preocupar com a deles – é uma das típicas respostas do premier.
Na verdade, com as pesquisas mostrando um empate técnico entre Bush e Kerry, a equipe de Blair vem se preparando para qualquer resultado. Uma vitória de Bush daria continuidade à forte relação pessoal da dupla, preservando a influência de Blair em Washington, e salvaria o primeiro-ministro do que o seu próprio eleitorado interpretaria como um tapa na cara sobre o Iraque.
– A suposição de Blair sempre foi a de que Dubya (Bush) garantirá um segundo mandato… Se ele tivesse um voto, eu suspeito fortemente que Tony Blair o daria para Dubya – disse o colunista Andrew Rawnsley, do jornal Observer.
– Tony Blair sente que sua reputação e destino estão entrelaçados com o de George W. Bush… a saída deste da Casa Branca seria considerada um voto de falta de confiança na guerra. No Partido Trabalhista, mais de 99 por cento estão a favor da vitória de Kerry – disse o deputado Mann, que apoiou a guerra no Iraque mas afirma que Kerry tem uma estratégia de saída mais rápida.
– Uma vitória de Kerry seria uma boa notícia para a Grã-Bretanha e facilitaria para os trabalhistas, porque mudaria os termos do debate sobre o que estamos fazendo no Iraque e no mundo – ressaltou.
Se Kerry ganhar, o governo de Blair poderá ter que enfrentar críticas sobre a política dos EUA e da Grã-Bretanha para o Iraque. Mas, com uma presidência democrata, dizem analistas, Blair e Kerry provavelmente encontrariam pontos comuns em outros temais globais, como meio-ambiente, África e Oriente Médio.