O presidente neofascista disse não acreditar que o candidato da oposição no país vizinho, Alberto Fernández, queira seguir um caminho de liberdade e democracia
Por Redação, com Reuters – de Brasília
O presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira que avaliza a declaração dada na véspera pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o Brasil deixará o Mercosul caso a oposição vença a eleição presidencial na Argentina e decida fechar a economia do país.Em entrevista a jornalistas ao deixar o Palácio da Alvorada em Brasília, Bolsonaro disse não acreditar que o candidato da oposição no país vizinho, Alberto Fernández, queira seguir um caminho de liberdade e democracia, que para ele vem sendo trilhado pelo atual presidente argentino, Mauricio Macri, seu aliado.
– O atual candidato que está na frente na Argentina, que tem na vice a Cristina Kirchner, já esteve visitando o Lula, já falou que é uma injustiça o Lula estar preso, já falou que quer rever o Mercosul. Então o Paulo Guedes —perfeitamente afinado comigo, por telepatia— já falou: ‘se criar problema, o Brasil sai do Mercosul’. Está avalizado, sem problema nenhum – disse Bolsonaro.
– Eu não acredito que ele (Fernández) queira seguir nessa linha de liberdade e democracia. Esse pessoal quando se apodera do poder, não quer sair mais. E sempre vivendo às custas da coisa pública – disse.
O presidente disse, no entanto, que está disposto a conversar com Fernández se ele vencer a eleição, mas avisou que o gesto terá de partir de Fernández, que tem como candidata a vice a ex-presidente Cristina Kirchner.
– Eu converso até com a Folha de S.Paulo, quem dirá com o futuro presidente da Argentina – disse o presidente.
Ao ser indagado sobre se procuraria Fernández caso ele vença a eleição presidencial argentina de outubro, negou.
– Não, não. Ele é que vai ter que dar o sinal. Quando eu tomei posse eu falei que ia manter a democracia, a liberdade, abrir o mercado, respeitar as religiões, e é isso que eu estou fazendo – disse.
Bolsonaro voltou a citar a reação dos mercados financeiros à vitória da coalizão encabeçada por Fernández nas primárias da eleição presidencial argentina no último domingo e reiterou que, se o oposicionista vencer, o Rio Grande do Sul pode ter de lidar com a mesma onda de imigração enfrentada por Roraima por causa da crise na Venezuela.
– Olha a Argentina aqui, o que aconteceu com a bolsa, com o dólar, com a taxa de juros deles. O mercado deu um sinal de que não vai perdoar a esquerda na Argentina novamente, o pessoal vai tirar de lá. Os empresários não vão investir na Argentina enquanto não resolver a situação política – declarou.
A eleição presidencial na Argentina acontece em outubro, mas a ampla vantagem obtida pela oposição nas primárias a deixa com amplo favoritismo para vencer o pleito.
Bolsonaro voltou a dizer que ainda não definiu quem nomeará para chefiar a Procuradoria-Geral da República, mas afirmou que o subprocurador Augusto Aras segue no páreo.
O presidente Jair Bolsonao defendeu que o chefe do Ministério Público Federal não pode estar focado apenas no combate à corrupção, mas também estar preocupado em não travar a economia e não ser “um xiita” em questões ambientais, indígenas e ligadas a minorias.
Nova referência à Venezuela
Na noite de quinta-feira, Bolsonaro disse que será “ruim para todos nós aqui” uma eventual vitória da chapa de oposição Alberto Fernández-Cristina Kirchner na eleição presidencial da Argentina, em mais um comentário após a derrota nas primárias de domingo do candidato que apoia, o presidente Mauricio Macri.
– Está na cara que se essa turma da Cristina Kirchner voltar, é ruim para todos nós aqui – disse Bolsonaro, em transmissão ao vivo feito em seu perfil no Facebook.
Ele repetiu que não quer que ocorra com a Argentina o que passa a Venezuela e destacou que será um “caos” se a oposição vencer, após falar do tombo da bolsa de valores e da disparada do dólar no país vizinho.
Na segunda-feira, Bolsonaro afirmou que a Argentina pode enfrentar uma crise migratória, com cidadãos deixando o país em direção ao Brasil, caso a oposição ao presidente Mauricio Macri vença as eleições de outubro, como aconteceu em uma votação primária no domingo.
Bolsonaro vira piada para programa de humor alemão
O programa humorístico alemão Extra 3, transmitido na noite de quinta-feira, chamou o presidente Jair Bolsonaro de bobo da corte, Borat e protagonista do clássico de terror Massacre da serra elétrica. Atração de horário nobre da ARD, principal rede de televisão pública alemã, o programa satirizou por quase cinco minutos o governo do presidente brasileiro, criticando principalmente sua política ambiental e o desmatamento na Amazônia.
– Um sujeito que não pensa nem um pouco sobre sustentabilidade e emissão de CO2 é o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, o ‘Trump do samba’. Mas alguns dizem também ‘o boçal de Ipanema’ – afirmou o apresentador Christian Ehring, em frente a uma fotomontagem de Bolsonaro vestindo a sunga do personagem Borat.