Bolsonaro estica a corda, arma militantes e convoca novo golpe

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Publicado Segunda, 25 de Julho de 2022 às 12:40, por: CdB

Ao longo dos últimos quatro anos, o mandatário vem dobrando a aposta em um possível golpe de Estado, frustrado até agora por força das instituições. Em mais de um momento, ele disse que apoia o armamento da população e chegou a se referir à militância como “meu exército”, em uma alusão ao possível levante de parte dos eleitores após uma possível derrota, nas urnas.

Por Redação - do Rio de Janeiro
Números divulgados pela Polícia Federal (PF) apontam que os registros de armas de fogo nas mãos de civis cresceram exponencialmente nos Estados em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu o segundo turno da eleição presidencial de 2018. Os registros de novas armas de fogo entre os 2018 e 2021 passaram de 39 mil para 163,7 mil, uma alta de 320%, nos Estados do Sul e Sudeste.
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O comércio de armas, no país, tem sido incentivado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PL)
Ao longo dos últimos quatro anos, o mandatário vem dobrando a aposta em um possível golpe de Estado, frustrado até agora por força das instituições. Em mais de um momento, ele disse que apoia o armamento da população e chegou a se referir à militância como “meu exército”, em uma alusão ao possível levante de parte dos eleitores após uma possível derrota, nas urnas.

Projeções

Nos 11 Estados em que Fernando Haddad (PT) venceu o pleito, o aumento também foi expressivo de 223%, passando de 12 mil para 38,8 mil. A corrida armamentista, estimulada por Bolsonaro e seus apoiadores, fica mais evidente quando os registros de novas armas ao longo do primeiro semestre de 2022 são comparados à população de cada Estado. A população dos Estados que elegeram Bolsonaro em 2018 soma cerca de 145,3 milhões de habitantes, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que significa que em 2022 houve uma arma nova para cada 1,7 mil habitantes. Entre os 68 milhões de pessoas nos Estados em que Haddad venceu, nas urnas, esta relação é de um novo registro a cada 3,6 mil pessoas. Ou seja, há duas vezes mais armas por pessoa registradas em 2022 nos Estados nos quais Bolsonaro venceu o pleito de 2018.

Bandidagem

Em sua coluna no diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo, nesta segunda-feira, sob o título ‘Investigações mostram como política de Bolsonaro arma o PCC’ o jornalista Marcelo Godoy sinaliza para a intenção, agora escancarada, de Bolsonaro tentar a alternativa da violência, em caso de derrota para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), possivelmente ainda no primeiro turno. “Cesta básica’ do crime formada por fuzis, carabinas e pistolas ficou até 65% mais barata com liberação de armas; ladrões de banco e traficantes estão pagando menos pelas ‘mercadorias’ porque agora podem comprá-las legalmente, por meio dos CACs”, escreveu Godoy. “Vitor Furtado, o ‘Bala 40’, foi surpreendido pela polícia e pelo Ministério Público do Rio vendendo armas para bandidos. Ainda segundo o relato de Godoy, em Uberlândia, Minas Gerais, “a Polícia Federal apreendeu na casa de um outro integrante do PCC duas carabinas, um fuzil T4, duas pistolas, uma espingarda e um revólver. Ocorridos em três Estados diferentes, esses não são casos isolados. Indicam antes uma nova forma de agir do crime organizado”.

Candidato

“Mas o que todos esses fatos têm a ver? Todas as armas foram compradas legalmente por laranjas ou por criminosos com extensa ficha criminal que se registraram como colecionadores, atiradores ou caçadores, os chamados CACs. A porteira que Jair Bolsonaro abriu para a turma do lobby da bala em 2019 e em 2020 com decretos que alteraram trechos do Estatuto do Desarmamento, ampliando o acesso a armas de fogo potentes, a munições e ao porte, facilitou a vida das facções criminosas”, acrescenta Godoy. Na confirmação de seu nome como candidato à reeleição, neste domingo, Bolsonaro deu a senha do que pode estar por vir nos próximos capítulos da disputa eleitoral no país. O mandatário fez novas bravatas em ataques ao Poder Judiciário e convocou a base bolsonarista a se engajar nos atos do próximo 7 de Setembro. Na mesma data, no ano passado, estava no ar a tentativa de um golpe de Estado, debelado por força do Congresso e do próprio Supremo Tribunal Federal (STF). — Esses poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo. Têm que entender que quem faz as leis é o Poder Executivo e o Legislativo. Todos têm que jogar dentro das quatro linhas da Constituição. Interessa para todos nós. Não queremos o Brasil dominado por outra potência, e temos outras poucas potências de olho no Brasil — vociferou, durante a referência aos ministros do STF.

Lenha na fogueira

Em seguida, Bolsonaro voltou a elevar o tom e convocou seus seguidores para que, “no 7 de Setembro, vá às ruas pela última vez". Para Paulo Niccoli Ramirez, professor de Filosofia e Política da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo (FESPSP), o discurso sinaliza que o presidente seguirá atacando “todos aqueles que possam tirá-lo do poder”, sejam as urnas eletrônicas, os governadores ou o STF, entre outros personagens com os quais o ex-capitão tem vivido embates ao longo dos últimos anos. — Isso vai mostrando pra gente que, como o Bolsonaro convoca seus apoiadores a marcharem no 7 de Setembro, ele joga mais lenha na fogueira com o objetivo de criar instabilidade à democracia. Ele tenta não só atacar as instituições que, de forma civilizada, conseguem limitar o poder dele, como também quer destruí-las. E como destruí-las? A partir de alusões ao golpe de 64 — concluiu.
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