As consequências da palestra de Bolsonaro são mais graves. O discurso em que o neofascista compara quilombolas a animais já repercutiu junto à Congregação Judaica do Brasil (CJB)
Por Redação – de Brasília e Rio de Janeiro
O procurador-geral da República (PGR), Rodrigo Janot recebe, nesta segunda-feira, a primeira de uma série de representações formais contra o deputado Jair Messias Bolsonaro (PSC-RJ). A primeira e mais efetiva partiu da procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat. Ela assina o documento que embasa a prática da disseminação do racismo por parte do parlamentar de ultradireita.
Mas as consequências da palestra não param neste processo. O discurso em que o neofascista compara quilombolas a animais já repercutiu junto à Congregação Judaica do Brasil (CJB). Bolsonaro também prometeu, se eleito, retirar dos descendentes de escravos todos os direitos conquistados desde o fim da escravatura no Brasil. A plateia, de cerca de 300 pessoas, a maioria da comunidade judaica carioca, aplaudiu o parlamentar de origem nazista.
Racismo escancarado
A diretoria do Clube Hebraica, em Laranjeiras, Zona Sul do Rio de Janeiro foi duramente criticada, neste sábado, em nota do rabino Nilton Bonder, da alta hierarquia da CJB. O documento foi encaminhado à representação contra Bolsonaro, protocolada na sede da PGR. A inicial do processo contra o deputado recebeu, também, a assinatura de um conjunto de parlamentares, para adoção de outras ações cíveis.
Por se tratar de integrante do Parlamento – cuja ação penal é de competência exclusiva do procurador-geral da República – o documento foi encaminhado para análise de Rodrigo Janot. Em seu ofício, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão ressalta que se soma à solicitação dos parlamentares na denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o deputado, em razão da prática do crime de racismo, tipificado em lei.
Segundo a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, não pesa dúvida ou ambiguidade na prática do crime. Há, segundo a representação, o objetivo claro de discriminar a população negra. Em especial os remanescentes de quilombos.
“É possível afirmar, sem medo de errar, que o discurso de Bolsonaro constitui a forma clássica, típica, emblemática, do preconceito racial e étnico, que se expressa sem amarras e sem dissimulações”, afirma a PFDC.
Imunidade
Na ação proposta ao PGR, a procuradora federal ressalta que a imunidade parlamentar não constitui direito absoluto. Não há exercício de mandato, segundo Deborah Duprat, que possa ser concebido como um atentado à democracia:
“Seria um absurdo supor que a cláusula da imunidade parlamentar autorize manifestação que atente contra a democracia, o pluralismo social, a segurança pública, o Estado de direito, enfim os valores mais caros da sociedade nacional”.
Em linha com a representação ao PGR, o rabino Bonder assinou uma nota pública, a qual publicamos, adiante:
Hebraica – Sequestro de Representatividade
O clube “Hebraica” deveria passar a chamar-se clube Laranjeiras ou algo que o valha.
É imperdoável que a Federação Israelita permita que um clube dirigido por um grupo inexpressivo e amador use o nome do clube para sequestrar uma representatividade que nem de perto possui. A mediocridade manifesta neste evento seja do ponto de vista da política, da sensibilidade e do respeito às nossas tradições humanistas e espirituais, demanda a retirada deste nome até que a Federação possa se fazer responsável pelo que ali acontece.
Muito mais grave do que um grupo apoiar o evento que queira, é inaceitável que lhe seja permitida a falsidade ideológica de apresentar A Hebraica como o clube representativo dos judeus. Esta responsabilidade é da FIERJ e o vídeo que circula com mais de um milhão de visualizações com atrocidades sendo ditas com a bandeira de Israel ao fundo e com a sonoplastia de simpatizantes louvando a intolerância, o racismo e o fanatismo é um estrago estrondoso não só à imagem, mas a alma do povo judeu.
Infelizmente A Hebraica se tornou um clube apócrifa até que a verdadeira soberania da comunidade judaica seja restabelecida sobre este patrimônio sociocultural confiscado por um grupo que, se só jogasse bola e ficasse na sauna, teria menor potencial de conspurcar um legado e tradição que não compreendem.