Paul Tellier deixou o posto de presidente-executivo da Bombardier na segunda-feira, deixando investidores surpresos e levando as ações da fabricante de trens e aviões à queda de mais de 25%, para o menor patamar em 10 anos.
A saída de Tellier acontece um ano antes do fim de seu contrato com a empresa canadense, que é a terceira maior fabricante mundial de aviões comerciais e principal rival da Embraer no mercado de jatos regionais. Dois integrantes independentes do Conselho de 14 pessoas também renunciaram.
Laurent Beaudoin, 66 anos, chairman executivo e membro da família que controla a empresa sediada em Montreal, vai assumir as atividades da presidência-executiva.
Analistas disseram que a renúncia de Tellier, que também deixou seu cargo como diretor, parece ter relação com uma batalha no Conselho da companhia.
“A impressão é que havia opiniões diferentes e que isso motivou a saída de Tellier”, disse o analista Richard Stoneman, do Dundee Securities.
Em relatório, o analista Steve Laciak, do National Bank Financial, disse que as divergências no Conselho da Bombardier podem ter a ver com o programa da nova família de aviões da fabricante ou com planos de desinvestimentos.
As ações da Bombardier chegaram a ser negociadas a 1,87 dólar canadense com a notícia, mas depois se recuperaram e passaram a ser negociada acima dos dois dólares canadenses. O volume de negócios com os papéis foi quase nove vezes superior à média dos últimos 90 dias.
A Bombardier também informou que Michael McCain, presidente-executivo da Maple Leaf Foods, e Jalynn Bennett, presidente de uma consultoria em Toronto, pediram renúncia de seus cargos no Conselho.
Tellier, com 65 anos, foi indicado presidente-executivo da Bombardier em janeiro de 2003. Em recente entrevista à Reuters, ele disse que esperava permanecer na empresa até o fim da reestruturação nas unidades aeroespacial e de transportes. Mas o executivo vai deixar a companhia imediatamente.
“Eu entendo a preocupação do Conselho de que eu não estaria na empresa no longo prazo para desenvolver e executar estratégias, e na necessidade de alterar a estrutura da gerência no atual momento”, disse Tellier em comunicado.
A agência de classificação Standard & Poor’s alertou que a saída de Tellier pode implicar no corte do rating da dívida da Bombardier, já qualificada em “junk”. Os receios da S&P referem-se a possíveis atrasos nas iniciativas de corte de custos da empresa.
Na Bombardier, Tellier liderou a venda da divisão de veículos sobre o gelo, reduziu a força de trabalho e iniciou o desenvolvimento dos estudos para uma família de aviões de 110 a 135 assentos, um investimento de 2 bilhões de dólares.