O Ministério do Meio Ambiente planeja aderir por completo nos próximos meses ao Protocolo de Estocolmo, um tratado internacional que prevê a erradicação de 12 Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) e que entrou em vigor na última segunda-feira.
Os poluentes, chamados ‘Doze Sujos’, são substâncias orgânicas sintéticas consideradas tóxicas e com efeitos nocivos ao meio ambiente e ao homem. Eles têm efeitos cancerígenos e causam distúrbios hormonais e nos sistemas imunológico e reprodutivo.
Em 2001, o governo brasileiro havia pedido uma exceção para o heptacloro que, no país, é utilizado na conservação da madeira.
– Não vemos motivo (para a exceção) e há inúmeras outras alternativas – disse a secretária de qualidade ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Marijane Lisboa.
Segundo ela, o pedido de registro do produto já está sendo revisto e o problema ‘certamente será resolvido antes do fim do ano’.
– Dentro de 90 dias nos tornaremos membros plenos do protocolo e não renovaremos o pedido de exceção – afirma a secretária, acrescentando que o heptacloro não é produzido no país, o que restringe as dimensões do problema.
Segundo o ministério, a situação brasileira é avançada e o heptacloro é o único poluente entre os ‘Doze Sujos’ que ainda são utilizados voluntariamente no Brasil.
Dois outros, dioxinas e furanos, são subprodutos involuntários de processos de produção e de incineração de outras substâncias. Entre os produtos mais conhecidos que geram POPs como subproduto está o PVC, usado em encanamentos e outros tipos de tubulações.
– A dioxina é o componente cancerígeno mais potente que se conhece – disse Marijane Lisboa, mostrando preocupação com esses poluentes de produção involuntária.
O coordenador da Campanha de Substâncias Tóxicas do Greenpeace, John Butcher, explica que o principal problema dessas substâncias tóxicas é que elas permanecem no meio ambiente por vários anos, podendo se acumular nos tecidos dos animais, inclusive nos do homem.
– Esses produtos foram encontrados até mesmo em tecidos do urso polar branco, no pólo norte – disse Butcher, dando exemplo da proliferação dessas substâncias nocivas produzidas pelo homem.
Segundo Butcher, a proibição desses 12 POPs é um passo muito importante, mas ainda não é o suficiente.
– Outras moléculas novas continuam sendo fabricadas e utilizadas diariamente. São substâncias tóxicas que estão presentes nos mais diversos tipos de produtos, como materiais de limpeza, perfumes, adesivos e até em brinquedos para crianças pequenas – alerta o coordenador da campanha do Greenpeace.
– São coisas que afetam a humanidade ao longo do tempo seja causando problemas diretamente a nós, ou afetando as gerações futuras – disse.
Butcher ressalta que o Brasil é o nono maior produtor de produtos químicos e que, por isso, o país deve ter uma atenção especial ao problema.
Em junho, o Greenpeace apresentará a pesquisa ‘Veneno Doméstico’, que está analisando poeiras coletadas em residências de grandes cidades brasileiras.
O trabalho tem o objetivo de avaliar o grau de disseminação de poluentes como os ‘Doze Sujos’, e as conclusões do estudo podem resultar em sugestões para o governo brasileiro de novos produtos a serem banidos.
Como signatário do Protocolo de Estocolmo, o governo poderá então submeter às sugestões aos demais integrantes do tratado.
Brasil pretende acabar com poluente proibido em 3 meses
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Publicado terça-feira, 18 de maio de 2004 as 02:40, por: CdB