Brasil vive dilema sobre queda dos juros

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Publicado quarta-feira, 11 de janeiro de 2006 as 12:59, por: CdB

O Brasil vive hoje um dilema em relação à possibilidade de baixar sua taxa básica de juros sem comprometer o controle da inflação, na avaliação de economistas internacionais. Ainda haveria espaço para a queda nos juros, mas o Brasil estaria melhor se houvesse uma inflação de 10% ao ano, e um nível de crescimento do PIB na ordem de 10%, segundo o Albert Fishlow, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos e do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Columbia, em Nova York.

Já Sebastián Edwards, ex-economista chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe aponta o centro da questão:

– Por um lado, as taxas de juros usadas para controlar a inflação estão em níveis muito elevados e inibem o crescimento, mas por outro a volta da inflação teria certamente um lado muito negativo para a economia.

Para ele, o grande desafio hoje das autoridades monetárias brasileiras é descobrir “o quanto os juros podem cair mantendo ao mesmo tempo a inflação baixa”. Edwards acredita que permitir taxas de inflação maiores visando impulsionar o crescimento seria um erro.

– Nas últimas décadas, aprendemos que o crescimento econômico acompanhado de altos índices de inflação tem conseqüências muito negativas. Aceitar mais inflação seria um erro muito grave – afirma.

Em queda

John Williamson, ex-conselheiro do Fundo Monetário Internacional, concorda que a taxa de juros básica da economia está em nível muito elevado hoje no Brasil e é um dos fatores que inibem um crescimento maior. Mas, diferentemente de Edwards, ele avalia que existe um espaço maior para a redução da taxa de juros. Na avaliação de Williamson, o Banco Central do Brasil pode se espelhar nas políticas adotadas nos anos 1990 pelo então presidente do Fed (o banco central americano), Alan Greenspan, para reduzir mais consistentemente as taxas de juros.

Para Williamson, em um momento em que os níveis de desemprego estavam num nível baixíssimo, indicando uma possível pressão de demanda, o Fed continuou a reduzir suas taxas de juros sem que isso implicasse uma alta da inflação. Ele considera, porém, que “não é possível comprar uma taxa de desemprego menor ou uma taxa de crescimento maior simplesmente com mais inflação”.

– Talvez seja possível no curto prazo, mas isso não funciona no longo prazo – disse.

Para Albert Fishlow, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos e do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Columbia, em Nova York, é possível dizer que um crescimento de 8% ao ano com uma inflação de 10% ao ano seria melhor que a situação atual do Brasil, mas ele avalia que não existe uma forma segura de que a inflação possa ser mantida estável nesse nível.

– O problema é que uma vez que se comece assim, a inflação tem uma tendência a se intensificar e continuar sempre crescendo”, diz. “Esse é o problema que vemos hoje na Argentina. Embora o país tenha crescido a uma taxa alta neste ano, deve terminar com uma inflação acima de 10%, e já começa a ficar difícil reduzir outra vez a taxa de inflação. O Brasil já aprendeu isso – considera.

Baixa poupança

Já Martin Wolf, ex-economista do Banco Mundial e principal articulista Financial Times, tem uma posição diferente. Para ele, as taxas de juros altas são uma conseqüência do baixo índice de poupança na economia brasileira. Segundo ele, o baixo nível de poupança gera uma “tendência crônica” de excesso de demanda, provocando uma pressão inflacionária.

Além disso, segundo ele, há uma memória inflacionária no Brasil, difícil de apagar, tornando a inflação mais resistente do que em outros países.

– Mas a questão estrutural é que se você tenta desenvolver um crescimento rápido numa economia com baixa taxa de poupança, a taxa de juros real vai ser necessariamente alta. Países com problemas de performance macroeconômica semelhantes e potencial parecido também vão ter altas taxas de juros, como é o caso da Turquia – diz Wolf.