Buracos negros ‘cantam’, mas ninguém ouve, dizem astrônomos

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Publicado terça-feira, 9 de setembro de 2003 as 23:42, por: CdB

Os buracos negros “cantam” em tons menores. Um deles, particularmente monstruoso, pode estar há bilhões de anos entoando um si bemol, mas numa freqüência inaudível para os humanos, disseram astrônomos nesta terça-feira.

– A intensidade do som é comparável à da fala humana – disse Andrew Fabian, do Instituto de Astronomia de Cambridge, na Inglaterra.

Mas a freqüência desse som é cerca de 57 oitavas abaixo da nota dó, que fica no meio do teclado dos pianos, ou seja, é um ruído muito aquém do que o ouvido humano pode captar, dizem os pesquisadores, que acreditam ser essa a nota musical mais baixa já detectada no universo.

O som emana de Perseus, um gigantesco aglomerado de estrelas a cerca de 250 milhões de anos-luz da Terra (cada ano-luz tem cerca de 10 trilhões de quilômetros).

Fabian e seus colegas usaram um observatório orbital da Nasa, o Chandra, para investigar os raios-X emanados do centro de Perseus. Eles desconfiavam da existência de um enorme buraco negro, com massa talvez 2,5 bilhões de vezes maior que a do Sol. A atividade ao redor do centro de Perseus favorecia essa conclusão.

Buracos negros são regiões do espaço com tamanha densidade e força de atração gravitacional que chegam a sugar até mesmo a luz ao seu redor. Os astrônomos acreditam que a maioria das galáxias, inclusive a nossa Via Láctea, pode conter buracos negros no seu centro.

Como os buracos negros atraem a luz, não podem ser diretamente observados. Por isso, os pesquisadores se concentram no que ocorre ao redor deles. No ano passado, quando voltaram o observatório Chandra para Perseus, descobriram ondas concêntricas do gás cósmico que preenche o espaço entre as galáxias da região.

– Estamos lidando com escalas enormes. O tamanho dessas ondas é de 30 mil anos-luz – disse Fabian.

Fabian disse que as ondas são causadas pelo encolhimento e aquecimento ritmado do gás cósmico, provocado pela intensa força gravitacional que mantém as galáxias aglomeradas. Para os cientistas, segundo ele, as ondas de pressão equivalem a ondas sonoras. Calculando a distância entre elas e a velocidade do som naquelas condioes, a equipe pode determinar a nota musical dessa vibração.

Fabian acha que a noção de “buracos negros cantores” pode ser expandida para outras galáxias, mas não necessariamente para a Via Láctea.

O observatorio Chandra vem observando emissões de raios-X da nossa galáxia, e astrônomos acham que de fato existe um buraco negro por aqui. Mas, em se tratando uma galáxia jovem e ruidosa, com muita atividade no seu centro, isso pode interferir na emissão das notas musicais do buraco negro, segundo Fabian.