Carinho e castigo (2) - A volta da velhinha

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Publicado Segunda, 14 de Julho de 2003 às 18:54, por: CdB

Caro leitor, cara leitora. Tive várias opções para escrever a carta desta semana. Uma era "A farra do boné", e começaria com comentários sobre a farândula de reações levantada pelo fato de o presidente ter vestido o boné do MST (imaginem se fosse a camiseta!). Outra seria "A reforma da previdência - o resgate", e se basearia na série de reações despertada pela simples ameaça (ou aceno?) do governo começar de fato uma negociação em torno da reforma com todas as partes envolvidas, isto é, incluindo os servidores públicos e a parte descontente (não a dissidente) da própria bancada, além de contemplar o presidente do Supremo Tribunal Federal.

Nossa! Há uma verdadeira campanha em curso, reunindo parte do governo, da mídia conservadora, de parlamentares idem, para "resgatar" a reforma de seus "deturpadores". Não deixou de ser interessante: parlamentares do PFL, que até então ficaram meio na moita, saíram a campo para dizer que a reforma estava definitivamente comprometida. Um dos epicentros deste pequeno "terremoto" era a questão da "integralidade" do pagamento da aposentadoria do servidor em relação a seu último salário, ou algo aproximado.

Levantou-se o argumento de que em nenhum país mais organizado este pagamento é integral, a não ser que seja complementado por um fundo de pensão. Bem, é verdade que em vários países da social-democracia européia o pagamento do benefício se dá em torno de 80% do salário da ativa. Mas também é verdade que há estímulos, envolvendo a permanência no trabalho além do tempo necessário para a aquisição do direito, que podem fazer aumentar este percentual. Entretanto comentar essas coisas me remeteria a temas de que tratei recentemente.

Ainda outra possibilidade era essa estranha guerra no Iraque, a que não teve e não teve fim. Olhem só a frase que pesquei em vários noticiários: "Desde o fim da guerra morreram 31 soldados norte-americanos em ações hostis e 44 em acidentes". Que frase notável! Que prodígio do contra-senso! Ou da falta de! Além do fato de que, penso eu, é preciso esclarecer melhor, e não será o noticiário oficioso que o fará, qual seja a natureza desses "acidentes". Mas aqui, preferi esperar um pouco mais, fazer um balanço mais pormenorizado do assunto no futuro.

Flávio Aguiar é professor de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo (USP) e editor da TV Carta Maior.

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